Machismo cotidiano

Bolsonaro reduz mulheres a ‘objetos sexuais’ e torna mais difícil reverter rejeição

Para cientista político Cláudio Couto, falas do presidente, neste 7 de setembro, usando Michelle para diminuir outras, devem afastar ainda mais o eleitorado feminino

Rovena Rosa/EBC
Rovena Rosa/EBC
“Bolsonaro mostra que para ele as mulheres estão ali para lhe servir sexualmente”

São Paulo – Ao puxar o coro de “imbrochável” em seu discurso em Brasília após o desfile de 7 de setembro, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) submeteu sua própria esposa, Michelle Bolsonaro, a “objeto sexual”, mostrando o que ele realmente é. É o que destaca o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta quinta-feira (8). Para o especialista, Bolsonaro tornou ainda mais difícil reverter sua rejeição entre as mulheres. 

Na análise de Couto, o Bolsonaro afasta as mulheres, incluindo aquelas de segmentos mais conservadores, mesmo acenando, como fez nesta quarta, para um conceito de “família”. Na ocasião, o presidente apelou à masculinidade afirmando que Michelle “muitas vezes está é na minha frente” e não ao seu lado, recomendando aos homens solteiros que se casassem. “Procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda”. Em seguida, o candidato à reeleição beijou a primeira-dama, para puxar gritos de “imbrochável” junto a apoiadores.

“Ele se gaba, mas acho que quem fica dizendo isso com tanta necessidade é porque talvez não seja assim tão seguro, digamos, da sua própria sexualidade, masculinidade e virilidade. Senão não precisava ficar dizendo a torto e à direita e faz isso logo depois de beijar sua esposa. Ou seja, além de tudo, de uma deselegância profunda, um ato que não cabe a um presidente da República”, contesta Couto que diz não acreditar em um avanço de Bolsonaro no eleitorado feminino. 

Ataques às jornalistas

“Só nessa ideia de que é imbrochável, Bolsonaro mostra que (para ele) as mulheres estão ali para lhe servir sexualmente”, observa o cientista político. Isso explica ainda, de acordo com Couto, porque o presidente não aceita questionamentos vindos de mulheres. Como é evidente em casos de violência cometidos por ele contra jornalistas, principalmente. Ainda no primeiro debate entre os candidatos à Presidência, no último dia 28, Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). 

Na semana passada, a advogada e apresentadora Gabriela Prioli também foi alvo da misoginia do presidente. No até então mais recente ataque machista, na terça (6), o candidato do PL, usou a vida pessoal da jornalista Amanda Klein, da Jovem Pan, para não responder a uma pergunta sobre os imóveis comprados com dinheiro vivo por sua família. Irritado, Bolsonaro respondeu “seu marido vota em mim”. Um ataque “covarde” nas palavras do professor da FGV. 

E contra Janja 

“Bolsonaro gosta de confundir as coisas. (…) Ele faz isso o tempo inteiro. É seu modo corruptível de ser. A corrupção é modus operandi do bolsonarismo em todas as suas dimensões. Uma visão corrompida do mundo, em que na verdade o próprio Estado e o próprio governo é tudo extensão de seus interesses familiares”, afirma Couto. “É possível que ele dessa forma e ataca uma série de outras pessoas”.

Ainda ontem, o presidente da República também usou Michelle para compará-la à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher de seu principal oponente na corrida presidencial, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “(Bolsonaro) acabou na realidade passando um recibo porque já reconheceu a Janja como virtual primeira-dama ao querer falar mal dela. Então na realidade mostrou o receio que realmente tem”, adverte o cientista político.

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