De olho no golpe

Orçamento dos EUA pode incluir sanções ao Brasil se militares atacarem as eleições

Parlamentares democratas querem que governo dos EUA pressione contra ameaça de interferência das Forças Armadas do Brasil no processo eleitoral

Arquivo/Agência Brasil
Arquivo/Agência Brasil
Militares temem que hacker exponha detalhes da participação da cúpula militar nos atos golpistas

São Paulo – Deputados dos Estados Unidos (EUA) querem esclarecimentos sobre as ameaças pelas Forças Armadas do Brasil de interferir nas eleições deste ano. Caso se confirme que os militares estejam atuando contra a normalidade do processo eleitoral, o país perderia acesso a fundos americanos de auxílio a países estrangeiros, vedados a nações não-democráticas.

O democrata Tom Malinowski, de Nova Jersey, apresentou proposta de emenda ao Orçamento anual de Defesa para que o governo estadunidense apresente um relatório sobre a atuação dos militares brasileiros. Outros cinco representantes do Partido Democrata – legenda do presidente Joe Biden – também assinam a proposta, que ainda vai a votação na Câmara dos Representantes. A informação é do site Brasil Wire, nesta quarta-feira (6).

Os parlamentares dos EUA querem saber se os militares brasileiros estão operando para “manipular ou anular” os resultados das eleições. E agindo para “interferir, interromper ou obstruir” a contagem dos votos por autoridades eleitorais independentes.

Também cobram informações sobre a participação dos militares em eventuais “esforços coordenados” de comunicação para minar a confiança da população nas autoridades eleitorais ou para questionar os resultados das urnas. E se estão usando mídias sociais ou outros meios para tentar “influenciar opiniões” em favor de algum “resultado específico”.

Por fim, também querem saber se as Forças Armadas estariam atuando para “encorajar, incitar ou facilitar atividades ou contestações físicas de motim em relação a processos eleitorais”, antes ou depois das eleições presidenciais deste ano.

Punições

Caso o relatório identifique a participação dos militares em alguns desses pontos acerca das eleições, o Brasil poderia sofrer sanções do governo dos EUA. Isso se o relatório oficial comprovar o “papel decisivo” das Forças Armadas do Brasil em tentativa de “golpe de estado”.

O Brasil Wire cita de uma fonte do governo norte-americano que a principal medida solicitada é a “descontinuação da assistência de segurança”. “É basicamente uma maneira de dizer: ‘você precisa considerar se essas ações equivalem a um golpe porque, se assim for, isso exigiria cortar nossa assistência'”.

Capitólio verde-amarelo?

Em palestra nos Estados Unidos, o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou ontem que o Brasil pode passar por episódio mais grave do que ocorreu por lá em 2021. “Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui, do Capitólio”, afirmou durante o evento organizado pelo instituto Wilson Center.

Na ocasião, centenas de apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Congresso para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições. A tentativa de golpe, estimulada pelo próprio Trump resultou em cinco mortos e dezenas de agentes de segurança ficaram feridos.

Na terça-feira (5), o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, descartou que as Forças Armadas estejam “duvidando” da segurança do voto eletrônico. “Não estamos duvidando ou achando isso ou aquilo outro, mas simplesmente com espírito colaborativo”, disse o militar, durante audiência na comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional na Câmara dos Deputados.

Mas o Exército principalmente tenta interferir na organização do pleito de outubro. Em maio, o TSE refutou três das sete “sugestões” dos militares para o aprimoramento do sistema eleitoral. As demais, o Tribunal ressaltou que já estão sendo aplicadas. Fachin chegou a afirmar que quem trata das eleições no Brasil são “as forças desarmadas“.

Também nesta semana, deputados do PT acionaram o Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF) para que o órgão investigue o general Walter Braga Netto (PL) por ameaças à democracia. De acordo com o jornal O Globo, em evento com empresários no mês passado, ele teria dito que “se não for feita a auditoria dos votos defendida pelo presidente da República”, não haverá eleição neste ano. Conforme afirmou o cientista político João Roberto Martins Filho sobre as investidas golpistas dos militares, “daqui até a eleição, serão três meses muito complicados“.


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