As pesquisas e a caneta

Com vantagem de Lula intacta, Bolsonaro intensifica ações eleitoreiras para reduzir rejeição

Com a caneta e o Congresso na mão, Bolsonaro aposta em ações classificadas como “compra de votos” e “conto do vigário” para evitar derrota no primeiro turno

Marcos Corrêa (PR) e Ricardo Stuckert
Marcos Corrêa (PR) e Ricardo Stuckert
Pesquisa Genial/Quaest mostra polarização aparentemente “bem consolidada”, considerando os índices de “decisão de voto”

São Paulo – A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (6) mostra que a diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), é virtualmente a mesma de um ano atrás. A constatação é apontada pelo cientista político Alberto Carlos Almeida. Divulgado em 7 de julho de 2021, o estudo Quaest/Genial mostrava Lula com 43% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro (então sem partido), com 28%. Ciro Gomes (PDT) aparecia com 10%. “Não mudou nada, Lula ‘subiu’ 2 pp e Bolsonaro ‘subiu’ 3 pp, DEPOIS DE 12 MESES!!!”, observa Almeida em sua página no Twitter (mantida a grafia do post). Desse modo, a vantagem de Lula nessa e nas demais pesquisas segue estabilizada sem fatos novos que causem mudanças expressivas

Na pesquisa de hoje, o petista tem 45% das intenções de voto, seguido pelo atual presidente, com 31%. Com 6%, Ciro está quatro pontos percentuais abaixo de um ano atrás. Na comparação com o mês passado, a vantagem de Lula era dois pontos percentuais maior: 46% a 30%. A oscilação está dentro da margem de erro.

Segundo análise do diretor da Quaest, Felipe Nunes, a polarização está “bem consolidada”: 78% dos eleitores de Lula e 76% entre os de Bolsonaro dizem que não mudarão o voto. Nas considerações sobre o estudo, que publicou no Twitter, Nunes chama a atenção para uma melhora da imagem de Bolsonaro no primeiro semestre de 2022, ao mesmo tempo em que a rejeição ao mandatário caiu de 66% para 59%.

Mesmo assim, bolsonaristas, que costumam desacreditar tanto as pesquisas que dão vantagem a Lula quanto o sistema eleitoral, comemoraram. A campanha do ex-presidente celebra um relativo crescimento no Nordeste e entre as mulheres, por exemplo. São segmentos das pesquisas que têm assegurado a larga dianteira de Lula.

Nordeste, Sudeste e voto feminino

No Nordeste, por exemplo, a distância continua favorável a Lula nas pesquisas, mas a diferença entre eles diminuiu 16 pontos (de 68% a 15% para 59% a 22%). Observa-se ainda “uma redução significativa” da vantagem de Lula no Sudeste (caiu de 43% a 30% para 38% a 33%). Apesar disso, o petista lidera em quatro das cinco regiões – só perde no Norte. Nas eleições de 2018, Bolsonaro só não venceu no Nordeste.

Esses movimentos sugerem uma sutil recuperação de Bolsonaro em São Paulo, Rio e Minas, na opinião do analista. Isso deve ser motivo de preocupação para a campanha de Lula, Alckmin e os sete partidos que apoiam a chapa, considerando que apenas os três estados somam 61,7 milhões de eleitores. Destaca-se ainda a diminuição da diferença no voto feminino. Nesse estrato, a diferença foi de 28 para 19 pontos em um mês, observa Nunes.

A pesquisa ouviu 2 mil pessoas presencialmente entre os dias 29 de junho e 2 de julho, o que significa que já abrange o período do escândalo envolvendo o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (que explodiu em 28 de junho) Pedro Guimarães. Por outro lado, a sucessão de escândalos faz com que a prisão de Milton Ribeiro e os casos de corrupção no Ministério da Educação (22 de junho) percam força. Sobretudo com a possível derrota da oposição na tentativa de instalar a CPI do MEC antes das eleições.

Hipótese

Em live disponível no Youtube, Felipe Nunes especula: “A minha hipótese (para recuperação de Bolsonaro em alguns estratos) é de que Bolsonaro, neste último mês, conseguiu passar a impressão de que está tentando resolver problemas”. Se essa expectativa vai ser transformada em frustração ou euforia, não se pode prever, pondera.

A população tem “alto conhecimento” das tentativas de Bolsonaro para melhorar a popularidade, principalmente com a ampliação do Auxílio Brasil, entre outras medidas como a PEC do Auxílio (ou PEC do Desespero). Mas os escândalos impediram resultados melhores na pesquisa, já que as denúncias relativas à Caixa e ao MEC também ficaram muito conhecidas (54% cada escândalo) pela população. E muitos eleitores dele de 2018 estão decepcionados e dizem não pretender repetir o “erro” (veja reportagem com evangélicos feita pela BBC).

“Compra de votos” e “conto do vigário”

Ou seja, de um lado a campanha de Lula apresenta à sociedade diretrizes do que pode vir a ser seu projeto de governo – inclusive junto a empresários – e conta com o histórico positivo de seu governo. De outro, Bolsonaro demonstra, em três anos e meio de governo, total fracasso na economia e total falta de projeto. E também nas questões éticas como “nova política”, “governo sem corrupção”. E agora, desfigura seu próprio orçamento para “comprar votos” com um “conto do vigário”, como define a comentarista da Globonews nesse vídeo que circula nas redes sociais.

Chama a atenção que 10% dos eleitores de Bolsonaro e 43% dos eleitores “nem-nem” (nem Lula, nem Bolsonaro) afirmam que a prisão de Milton Ribeiro diminui as chances de voto no presidente. No caso da Caixa, “o dano é ainda maior”: 17% dos que votam nele e 39% dos “nem-nem” dizem que as denúncias de assédio contra Pedro Guimarães  diminuem as chances de voto no chefe do Executivo.

Em outro viés, o número de eleitores que culpam Bolsonaro pelo aumento do preço dos combustíveis caiu de 28% para 25%. Ele teria conseguido sucesso parcial na tentativa de responsabilizar a Petrobras: subiu de 16% para 20% o número dos que veem a estatal como culpada.