Entrevista

‘Chapa Lula-Alckmin está acertada, resolvida’, diz aliado do ex-governador

“Geraldo nunca foi desleal com ninguém. O projeto dele é ajudar Lula a ganhar a eleição, administrar sem radicalismo”, afirma ex-deputado Pedro Tobias

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Ex-adversários, Lula e Alckmin se encontraram em evento realizado em dezembro, em SP

São Paulo – A aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, para disputar a Presidência da República, está selada, segundo o ex-deputado estadual e ex-presidente do PSDB de São Paulo Pedro Tobias. “A chapa Lula-Alckmin está acertada. Essa está resolvida.” Aliado muito próximo do ex-tucano, Tobias deixou o partido junto com Alckmin.

Para ele, a “briga” entre Márcio França e Fernando Haddad pela indicação ao governo paulista – em federação ou mesmo em aliança – não pode se prolongar. “Precisamos unir o país. Vão brigar, agora, Haddad e Márcio França? Não dá. Tem que resolver o problema de São Paulo. Geraldo está trabalhando sobre isso. Porque não podemos sair com dois candidatos, de um lado Haddad e de outro, França.”

O partido ao qual Alckmin vai se filiar para ser o vice de Lula ainda não está definido. Se o ex-tucano já se decidiu, é um segredo a sete chaves. “Como ele nunca teve pressa, é capaz de ir até fim do prazo, em março”, diz Tobias. O dia 2 de abril é a data-limite para que os candidatos tenham definido o domicílio eleitoral e a filiação partidária pela qual irão disputar a eleição. 

“Rei da costura”

Alckmin – também muito próximo de França, que foi seu vice em São Paulo – está costurando uma aproximação do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) ao grupo que será formado a partir da chapa à presidência. O ex-governador está também conversando com segmentos religiosos e com o agronegócio, com os quais tem diálogo consolidado em sua longa passagem pelo Palácio dos Bandeirantes. “Geraldo é o rei da costura”, afirma Tobias.

Aos grupos petistas descontentes com uma aliança entre Lula e Alckmin, o ex-presidente do diretório paulista do PSDB diz que não há com o que se preocupar. “Geraldo é leal. Nunca foi desleal com ninguém. O projeto dele é ajudar Lula a ganhar a eleição, administrar sem radicalismo. Precisamos unir o país. Chega! A sociedade não aguenta. Hoje tem paciente com câncer que encontra a porta fechada para ele no SUS”, continua Tobias, que é médico, como Alckmin.

Perguntado sobre sua opinião pessoal a respeito do acordo entre os dois antigos adversários, Tobias responde que é “excelente para o país, excelente para Lula, porque Lula não ganhou a eleição e não pode andar de salto alto”. No entanto, a aliança não é tão positiva para Alckmin, em sua opinião. “O eleitor dele, da direita, está xingando de todo lado. Mas para o país é bom. Precisa parar esse ‘nós contra eles’, ‘eles contra nós’. O país não aguenta mais. Radicalismo não ajuda.”

Tobias diz ainda que não vai se candidatar a nenhum cargo este ano. “Hoje sou um médico pobrezinho. Cuido de SUS.”

Aloysio Nunes

Outro tucano histórico, Aloysio Nunes – ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e das Relações Exteriores de Michel Temer – fez também sinalizações de armistício ao PT e a Lula. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, disse que a escolha de Alckmin como vice de Lula “é um movimento correto do ponto de vista político, tanto da parte do Geraldo Alckmin quanto do Lula”.

Segundo ele, diante do “desastre que foi a eleição do Bolsonaro – um desastre até previsível – e do seu governo de destruição sistemática, vem a ideia de que é preciso retomar um diálogo que houve ao longo do tempo com forças de esquerda, como o PT”.

Na semana que vem, expressivo grupo de não petistas, organizado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), reunindo dezenas de personalidades da sociedade civil, lançará um manifesto pelo apoio imediato a Lula. O objetivo é vencer a extrema-direita e Bolsonaro no primeiro turno. A informação é da revista CartaCapital.

Entre os signatários, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence; o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah; e o economista José Eli da Veiga. Também assinam o manifesto o cientista político Bernardo Ricupero e o ambientalista Márcio Santilli. O nome de Patah é significativo na lista, já que o sindicalista é ligado ao PSD e a Gilberto Kassab.