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CPI da Covid interroga ‘capitã cloroquina’, por uso de medicamento ineficaz em Manaus. Acompanhe

Secretária insistiu em promover “tratamento” sem eficácia comprovada e com risco de efeitos colaterais alertados por pesquisadores. Inclusive no pior momento da crise em Manaus

Reprodução/Facebook
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Mayra é chamada de “capitã cloroquina” porque é responsável, segundo ela mesma, por disseminar uso da droga

São Paulo – A CPI da Covid ouve nesta terça-feira (25) a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. Conhecida como “capitã cloroquina”, ele deve ser questionada sobre o aplicativo TrateCov e por sua defesa do “tratamento precoce”. A “capitã” foi levada ao cargo pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Antes, havia se projetado, como presidenta do sindicato dos médicos do Ceará, com ataques ao programa Mais Médicos, aindsa no governo Dilma Rousseff. Na quarta-feira (26), a comissão vai decidir sobre a convocação do ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, além da infectologista Luana Araújo. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deverá ser reconvocado, segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Acompanhe o depoimento de Mayra Pinheiro

O senador Humberto Costa (PT-PE) requereu o depoimento de Weintraub para investigar a suspeita de sua participação destacada no chamado “ministério paralelo”, um dos principais pontos trazidos à luz até aqui pelo colegiado, durante audiência com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Weintraub – irmão mais novo do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub – seria responsável por traçar diretrizes sobre a pandemia à margem da Saúde. É conhecido como “guru da cloroquina”.

A “capitã cloroquina”, conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio a respeito de fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que abrange o colapso do sistema de Saúde em Manaus e a falta de oxigênio nas UTIs da capital amazonense. O ministro Ricardo Lewandowski esclareceu que a depoente tem direito a ficar calada porque o período é objeto de ação de improbidade administrativa em que ela aparece como ré. No entanto, a secretária deverá esclarecer questões sobre a cloroquina e o aplicativo TrateCov, pelo qual era indicado o uso desse medicamento, entre outros, para tratamento da covid-19.

Uma de muitas mentiras

O aplicativo foi iniciativa de Mayra, segundo disse Pazuello em seu depoimento. Entre as explicações do ex-ministro na CPI, a relativa ao TrateCove foi uma das muitas inverossímeis e apontadas pelos senadores como mentirosas. Ele afirmou que era apenas um protótipo, e que um ataque hacker fez com que a plataforma ficasse disponível. Mas o aplicativo foi anunciado pelo próprio Pazuello em 11 de janeiro passado, em Manaus. O Amazonas seria o primeiro estado a usá-lo. “Hoje vai ser lançada uma plataforma. A Mayra vai falar sobre isso, que vai permitir que o próprio prefeito cobre o protocolo de atendimento”, explicou o ex-ministro na ocasião.



Mayra é chamada de “capitã cloroquina” por ser a responsável, segundo ela mesma, por disseminar seu uso. Após o Ministério da Saúde publicar nota técnica indicando o medicamento no tratamento precoce da covid 19, em maio de 2020, a médica afirmou que O Ministério da Saúde ainda não tinha se posicionado oficialmente. “Hoje nós orientamos que as prescrições médicas possam ser feitas. Tomamos a decisão de disponibilizar, aumentando os nossos estoques desses medicamentos”. Tudo apesar dos frequentes alertas de publicações científicas de que o método não tem eficácia comprovada e ainda pode causar efeitos colaterais perigosos, inclusive fatais.

Cearense, a médica Mayra esteve no Amazonas dias antes do colapso sanitário justamente para difundir o tratamento precoce. “Todas as atividades que foram demandadas em Manaus foram feitas por mim. A função das visitas era conversar com os colegas médicos, tentar orientar sobre atendimento precoce”, declarou a própria Mayra.


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