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Debate analisa ‘operação política’ da mídia para eleger candidatos de sua preferência

Barão de Itararé reúne analistas para discutir papel da grande imprensa nas eleições de 2020, com vitórias da direita em São Paulo e Porto Alegre

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Para além das análises, os debatedores deram exemplos concretos da cobertura parcial dos veículos tradicionais

São Paulo – Para debater a cobertura da chamada grande imprensa nas eleições de 2020, encerradas no domingo (29), o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé reuniu, nesta terça-feira (1º), a jornalista Angela Carrato (professora da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), o sociólogo Sérgio Amadeu (Universidade Federal do ABC – UFABC), Bia Barbosa (mestre em Gestão de Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP) e o jornalista e coordenador do debate Lalo Leal (professor da Universidade de São Paulo – USP), diretor do Barão de Itararé. “Há muito o que falar sobre o tema, porque a imprensa não fala”, disse Lalo.

Para além das análises, os debatedores deram exemplos concretos da parcialidade da cobertura jornalística das eleições municipais feita pela chamada imprensa tradicional. O pleito em São Paulo, que elegeu o tucano Bruno Covas, foi destaque entre os debatedores. Bia Barbosa citou, por exemplo, o programa Roda Viva, da TV Cultura, da segunda-feira (23). A emissora pública paulista escalou o professor da FGV Claudio Couto e o advogado criminalista Roberto Delmanto para comentar o desempenho dos candidatos – além de Covas, Guilherme Boulos (Psol) nos intervalos.

“Covas gestor, Boulos sonhador”

“Não consegui entender o que um advogado criminalista tem de base pra comentar (um debate eleitoral para apresentação de propostas)”, afirmou, classificando de “impressionante” a participação de Delmanto no sentido de “desconstruir” as propostas de Boulos.  “Ele pintou Covas como gestor, que tem experiência, a máquina na mão, fazendo boa gestão por conta da covid-19. E o Boulos como sonhador, utópico, inexperiente. As palavras que ele usava chegavam a ser as da propaganda que o Covas usava para criticar Boulos”, lembrou Bia.

A propósito da TV Cultura, Amadeu lembrou que o programa “Manhattan Connection”, símbolo do pensamento da direita brasileira, deixou de fazer parte da programação da Globonews e passará a ser exibido pela emissora do estado de São Paulo, governado por João Doria (PSDB). O professor da UFABC mencionou um episódio do processo eleitoral que viralizou nas redes sociais na quinta-feira (26).

Para Amadeu, “a maior expressão da operação política – como sempre fizeram” –  dos meios de comunicação na cobertura de eleições “a favor de seus candidatos” ocorreu no debate promovido pelo Uol entre Boulos e Covas, em que a jornalista Thais Oyama tomou o tempo que deveria ter sido dado para as considerações finais do candidato do Psol .

Bia se disse “chocada” com os debates,  principalmente com o fato de, no Brasil, a decisão de realizar ou não os confrontos entre candidatos ficar a cargo dos próprios meios de comunicação, diferentemente dos Estados Unidos, onde uma comissão define a realização dos encontros entre candidatos, que independe da vontade das emissoras.

Jornal Nacional “cara de pau”

Na opinião de Angela Carato, as eleições de 2020 foram “as piores” do ponto de vista da cobertura da imprensa na história recente. “Pior do que quando existia a tenebrosa Lei Falcão, com aquele desfile de números e nomes”, lembrou. Ela mencionou o balanço do segundo turno feito pelo Jornal Nacional. “Na maior cara de pau, (William) Bonner e Renata (Vasconcellos) colocaram que os brasileiros escolheram os candidatos moderados, e que os derrotados foram Bolsonaro e Lula”, anotou.

“Na verdade, os brasileiros não escolheram os candidatos moderados. Escolheram diante da desinformação que lhes foi imposta”, acrescentou. Para Angela, o que agora a imprensa chama de “candidatos moderados”, como vencedores das eleições, “são os velhos de direita, seja com 27 anos, seja os com mais de 60”.

Amadeu também lembrou a ocorrência das fake news no processo eleitoral. Segundo ele, a desinformação e as fake news fazem parte da estratégia política principalmente da extrema direita, mas foi também utilizada, por exemplo, em Porto Alegre contra Manuela D´Ávila (PCdoB) por apoiadores de Sebastião Melo (MDB), eleito prefeito da capital gaúcha.

“Eles (a extrema-direita) se fundiram com o MDB contra a Manuela, aplicaram (informações falsas) no Espírito Santo e em São Paulo.”

Assista ao debate na íntegra: