Eleições municipais

Eleitores de São Paulo rejeitam candidatos indicados por Doria e Bolsonaro

Segundo o Datafolha, 64% dos paulistanos afirmam que não votariam em um nome apoiado pelo presidente em hipótese nenhuma, e 59% responderam no mesmo sentido em relação ao governador

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Mesmo na insuficiência de vacinas, Doria e Bolsonaro não tomam medidas básicas para evitar o contágio e mortes

São Paulo – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente da República, Jair Bolsonaro, no momento, estão longe de ser “cabos eleitorais” que possam alavancar candidaturas à prefeitura de São Paulo. Pelo menos é o que se conclui de pesquisa Datafolha. Segundo o levantamento, 64% dos eleitores de São Paulo afirmam que não votariam em um candidato de Bolsonaro em hipótese nenhuma. Quanto ao governador paulista, 59% responderam no mesmo sentido. Apenas 11% (um em cada dez eleitores) votariam no indicado pelo presidente. Já os que endossam um nome apoiado por Doria seriam 8%, diz a pesquisa.

De acordo com o Datafolha, o governo Bolsonaro é avaliado como ótimo ou bom por 29% dos paulistanos. Para 23%, é regular e 46% consideram ruim ou péssimo. O governo Doria é considerado ótimo e bom por 21%, como regular por 39% e, para 39% dos eleitores da capital, é ruim e péssimo.

No caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a rejeição também não é pequena: 57% recusariam um nome sugerido por ele. Mas o petista tem a seu favor o fato de que 20% afirmam que votariam no seu candidato e 21% consideram essa possibilidade.

Para Oswaldo Amaral, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a rejeição a eventuais candidatos apoiados pelo governador tucano e pelo presidente se relaciona com o desenvolvimento da pandemia de coronavírus. “Nos grandes centros urbanos, o reflexo desse processo é mais impactante do que no interior. E na capital o auxílio emergencial tem menos penetração”, avalia. O benefício é considerado por boa parte dos analistas como o principal fator da aprovação do governo Bolsonaro subir para 40%, segundo o Ibope.

Até esta sexta-feira (25), o país para cujo presidente a covid-19 não passa de uma “gripezinha” registrou 4,7 milhões de casos da doença, com 140.040 óbitos. Na mesma data, o estado de São Paulo tinha 34.877 óbitos e 964.921 casos confirmados. Já na capital do estado os casos confirmados eram 321.851 e o número de mortos, 12.506 (cerca de 9% do país).

“Um contingente grande de pessoas sofreu bastante com a pandemia. O número de mortos é elevado, além das restrições. A forma como foi conduzida pelo governo Bolsonaro respingou em sua popularidade”, avalia Amaral. Ele ressalva, no entanto, que o número de apoiadores do comportamento do presidente diante da doença também se reflete na pesquisa de âmbito nacional. “Tanto que tem 40% de aprovação.”

Campanha começa domingo

Porém, como a campanha eleitoral sequer começou, os dados da pesquisa não podem ser avaliados como um histórico, o que impede saber, por exemplo, se os números sobre os apoios de Doria e Bolsonaro estão caindo ou subindo. “Se pega uma série relativa ao governo Bolsonaro, você sabe que ele está subindo entre quem ganha até dois salários mínimos, entre a população do Nordeste, na região Sul”, diz o cientista político.

No caso da eleição municipal, o início do período de campanha eleitoral será neste domingo (27). Antes disso, o candidato de Bolsonaro, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), lidera a corrida eleitoral, com 29%, seguido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), apoiado por Doria, com 20%, na pesquisa Datafolha. Os eleitores de São Paulo ainda não têm conhecimento de quem o presidente e o governador apoiam.

Para o professor da Unicamp, o atual prefeito paulistano aparece em boa situação. “Não está muito atrás de Russomanno, que tende a desidratar bastante.” A situação do candidato de Bolsonaro é muito parecida a eleições anteriores.

“Ele tem o ‘recall’, as pessoas lembram dele. Mas estão mais preocupadas com não perder ou conseguir um emprego, não morrer de covid. Quando o entrevistador da pesquisa chega com a lista, o eleitor lembra do Russomanno. Mas é muito cedo.” Em 2016, no final de agosto, Russomanno liderava as pesquisas com cerca de 30%  e vencia o segundo turno em todos os cenários.

Centro-esquerda

No campo da centro-esquerda, o melhor colocado é Guilherme Boulos (Psol), com 9%. Jilmar Tatto (PT) aparece com 2%. “Boulos é o mesmo voto do PT dos anos 90, um voto de classe média, média alta do centro expandido. Na periferia, não vai ter votação expressiva”, avalia o analista. O número de brancos, nulos ou dos que não vão votar em nenhum candidato é de 17%.

Para Amaral, o fato de que 20% dos pesquisados votariam no candidato de Lula e 21% considerariam essa possibilidade não pode ser avaliado como uma tendência. “A indicação de Lula é mais uma lembrança de algo positivo do que efetivamente a tendência de transferir voto”, diz. “Lula não vai transferir 20% dos votos a Jilmar Tatto. Dados como esse medem muito mais a preferência do eleitor por esses políticos, seja Lula ou Bolsonaro, do que realmente a capacidade de transferência de voto.”

O que vale é a bancada

Na opinião do cientista político e ex-presidente do PSB Roberto Amaral, ao lançar Tatto, o PT não está “nem pensando em eleger o candidato, mas vereadores”. O professor da Unicamp concorda. “Isso acontece em muitos lugares onde o PT não tem chance, e tenta fazer bancada. Todos os partidos estão trabalhando essa lógica, de que precisam lançar candidatos a prefeitos para aumentar a exposição de candidatos a vereador”, analisa.

Oswaldo Amaral observa que, nas eleições municipais de 2020, pela primeira vez, candidatos a vereador não poderão concorrer por meio de coligações, após o Congresso Nacional aprovar o fim desse sistema na reforma eleitoral de 2017.  Assim, o candidato a uma cadeira na Câmara  Municipal só poderá participar do pleito em chapa única dentro do partido ao qual é filiado.

“O que antes se fazia por meio da coligação, agora não se consegue. Isso é que os líderes partidários estão pensando. Pode ser que dê errado, mas a gente não sabe, porque é a primeira vez que haverá essa regra.”