Grito pela Democracia

Fernando Morais e Audálio Dantas deixam PMDB. ‘Acabou!’

Jornalista rasga em público ficha de filiação à legenda que acolhia uma ampla frente de oposição à ditadura, e hoje lidera o golpe à democracia. 'Bando de aproveitadores', diz Audálio

Roberto Parizotti/CUT

Morais: na ditadura, militamos num partido generoso, democrático e que deu proteção a grupos perseguidos

São Paulo – “Acabou!”, exclamou o jornalista e escritor Fernando Morais, aos rasgar em público a sua ficha de filiação ao partido. Morais revelou que sua adesão foi abonada em 1974 pelo ex-deputado Aírton Soares. “Na ditadura, militávamos numa legenda democrática, generosa, que deu proteção a grupos políticos”, afirmou Morais, citando, entre outros, o MR-8 (“Era comunista.”) A manifestação aconteceu durante o chamado Grito pela Democracia, hoje (21), que lotou o auditório da Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, zona sul de São Paulo, em evento contra o governo interino e em defesa da democracia.

Ex-secretário e deputado estadual, Morais não foi o único. O também jornalista Audálio Dantas, presidente do sindicato e da federação nacional da categoria nos anos 1970 e ex-deputado federal, também anunciou sua desfiliação do partido, que segundo ele já foi “uma frente democrática e de luta”. “A nossa luta tem de ser a da unidade”, afirmou Audálio.

“As conquistas que vieram das ruas não poderão ser eliminadas por um bando de aproveitadores. O povo brasileiro mais uma vez repele a tentativa de supressão de seus direitos e de sua liberdade”, disse o veterano jornalista, de 86 anos. Entre 1964 e 1980, a ditadura impôs ao Brasil um regime de bipartidarismo. A Arena reunia os apoiadores do regime, e o MDB funcionava como uma frente, abrigando de conservadores liberais a militantes de partidos clandestinos, como PCB e PCdoB.

Roberto Parizotti/CUT
Ficha de filiação rasgada por Fernando Morais era de 1974

Novas manifestações

O coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, um dos líderes da Frente Brasil Popular (FBP), informou que haverá um novo dia nacional de protestos e paralisações em 10 de junho, juntamente com a Frente Povo sem Medo. As duas frentes reúnem mais de 80 entidades da sociedade civil.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de reunião com a FBP na tarde de hoje. “Muitos acham que estamos desanimados. Estamos é muito animados para continuar”, disse Raimundo Bonfim. “Nós acreditamos que é possível reverter o golpe e resistir aos ataques desse governo golpista transitório.”

Também presente ao Grito pela Democracia, o poeta Sérgio Vaz, idealizador do Sarau da Cooperifa, na zona sul da capital, declamou um poema, pediu palmas para os estudantes da rede pública e encerrou sua fala dizendo que um país sem democracia é ilegal. “Quem dá alvará é o voto. Por isso, o Brasil hoje está na ilegalidade.”

Leia também

Últimas notícias