Grito pela Democracia

Não há diálogo com Temer, que não tem legitimidade, diz Paulo Teixeira

Deputado afirma que ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha 'nomeia ministros'. Alvo de sindicância, José Eduardo Cardozo reitera defesa da Constituição. 'Fora Temer' nos unifica, diz Gilberto Maringoni

Roberto Parizotti/CUT

Para Cardozo, auxiliares de Temer se incomodam com ilegitimidade. Teixeira diz que momento é de mobilizar contra período de trevas

São Paulo – O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), organizador do Grito pela Democracia, realizado neste sábado (21), em São Paulo, disse que não há qualquer possibilidade de diálogo com o governo do interino Michel Temer, levado ao poder por um golpe “empresarial” (Fiesp), “midiático” (“A Rede Globo militou por esse golpe, convocou os atos públicos dos últimos anos), em certos aspectos judicial e também parlamentar, “pelo que há de mais atrasado no Parlamento brasileiro”. O ato reuniu políticos (PT, PCdoB, Psol), representantes de movimentos estudantil, de jovens, negros, moradia, LGBT, artistas e intelectuais, que se alternaram no palco durante quase cinco horas.

“Temer: não tem diálogo, porque você não tem legitimidade”, afirmou Teixeira, para quem o  golpe levou ao poder “brancos, sem voto, representantes da elite colonial brasileira”. Ele disse ver participação norte-americana no processo. “E o Serra (o agora ministro das Relações Internacionais, José Serra) quer alinhar a política internacional brasileira aos Estados Unidos.”

Para o deputado, mesmo afastado da Câmara, o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mantém sua influência. “Ele hoje nomeia ministros. Nomeou o líder do governo, e numa violência destituíram o presidente da Empresa Brasileira de Comunicação para colocar um representante de Eduardo Cunha”, afirmou Teixeira. “Foram 100 anos para construir a Previdência Social, e num ato colocaram (a Previdência) numa secretaria do Ministério da Fazenda, comandada por um representante do sistema financeiro”, acrescentou.

“Vão acabar com a política de valorização do salário mínimo e aprovar o projeto da terceirização”, disse ainda o parlamentar, para quem o governo interino pretende ainda “acabar com a universalidade do SUS” e estimular o ensino privado. Segundo ele, o momento é de explicar à população o que aconteceu no país e mobilizar contra “um grande período de trevas”. Teixeira reafirmou que “não tem nenhum crime que se possa apontar contra Dilma Rousseff”.

O jornalista Fernando Morais, que durante o ato anunciou sua desfiliação do PMDB após 42 anos, comemorou a notícia de que a CUT desmentia informações de que poderia negociar com o governo interino. “A CUT não negocia com golpista, não negocia com Michel Temer.”

Pelo Psol, o jornalista Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, disse que a palavra de ordem “Fora Temer” unifica os movimentos, pedindo uma “frente única contra o golpe” juntando inclusive peemedebistas e tucanos, como Luiz Carlos Bresser-Pereira e Paulo Sérgio Pinheiro. Segundo ele, quem gritou pelo impeachment vestindo verde e amarelo, “histéricos nas ruas, tirando selfie com Tropa de Choque e batendo panelas, está com vergonha em casa”. E mesmo “gente esclarecida”, como a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber acha que não foi golpe.

“Eles têm de dar aparência que esse golpe não é um golpe, dar aparência de normalidade. Golpista é sempre assim, não admite que é golpista”, disse Maringoni. “Eles não vão se sustentar”, acrescentou Maringoni, defendendo o “Fora Temer”, mas evitando o refrão “Volta Dilma” gritado pelo público.

Crime

Presidente municipal do PCdoB em São Paulo, o vereador Jamil Murad lembrou que entre os articuladores do impeachment havia inclusive “gente de confiança” da presidenta Dilma. “Eles enganaram o povo brasileiro”, afirmou, observando que o pretexto para o golpe foi o combate à corrupção e citando interesses em áreas estratégicas. “Colocaram um auxiliar de Fernando Henrique na Petrobras”, disse Jamil, referindo-se a Pedro Parente, indicado por Temer para a presidência da estatal.

O ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo informou ao público que está sendo alvo de sindicância por parte do novo titular da AGU, Fábio Medina Osório, por referir-se ao processo de impeachment como golpe. “O crime de que nos acusam é afirmar que a Constituição foi desrespeitada. Eles estão incomodados a cada revelação de que participam de um governo ilegítimo”, disse Cardozo. Ele lembrou que o próprio Osório, em entrevista no ano passado, disse que, sem provas, esse processo poderia se considerado um golpe.

“Quem luta por uma causa justa não se acovarda. Vamos enfrentá-los com a coragem de quem construiu a democracia”, reagiu Cardozo, que reafirmou o uso da palavra “golpe”, contra “nossas conquistas históricas”.

O ex-senador e ex-secretário municipal de Direitos Humanos Eduardo Suplicy pediu que as pessoas escrevam “mensagens carinhosas” a senadores para que estes reflitam sobre sua votação no processo de impeachment. Ele citou, entre outros, o nome de sua ex-mulher Marta, que votou pela admissibilidade do processo. A iniciativa é necessária, afirmou, “para que a presidenta Dilma possa continuar até 31 de dezembro de 20108, que é o nosso anseio”.