Unasul pede explicação de Obama sobre bases na Colômbia

Declaração final evita condenações enérgicas à presença de militares dos Estados Unidos na América do Sul, mas Uribe não escapa de ataques durante todo o encontro

O presidente Lula ao lado de Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai) e Hugo Chávez (Venezuela), tendo ao fundo a chilena Michele Bachelet (Foto: Ricardo Stuckert)

A União Sul-americana de Nações (Unasul) fechou nesta sexta-feira (28) uma declaração conjunta afirmando o compromisso de impedir “a ingerência na soberania dos povos latino-americanos”.

Durante a reunião extraordinária que durou o dia todo em Bariloche, Argentina, as doze nações concordaram em aprovar um comunicado que não fizesse condenações veementes às bases dos Estados Unidos na Colômbia, o tema central e o motivo do encontro. O Brasil decidiu pedir que Barack Obama forneça detalhes sobre o acordo – em conversa telefônica nesta semana com Lula, Obama havia dito que cabe à Colômbia falar sobre o tema e que os dois terão oportunidade de conversar pessoalmente durante a próxima reunião do G-20.

A defesa brasileira, que já havia sido delineada durante a semana, focou-se em pedir garantias de que os territórios vizinhos não serão violados pela presença militar dos Estados Unidos. As condenações mais enfáticas vieram de Venezuela e Equador, os dois vizinhos que vivem envoltos em tensões com a Colômbia, e da Bolívia.

Durante todo o dia os presidentes revezaram-se em pedir explicações ao colombiano Álvaro Uribe e questionando o porquê da presença militar estadunidense na região. O venezuelano Hugo Chávez destacou trechos do “livro branco”, documento público sobre os instrumentos de defesa dos Estados Unidos que fala, em diversos pontos, da necessidade de garantir a presença militar na América do Sul.

Mesmo com as ameaças da Venezuela de romper relações e com o declarado mal-estar dos outros países da região – a exceção do Peru –, Álvaro Uribe defendeu o projeto afirmando que “aqui não estamos falando de um tema leviano de soberania ou de acordos jurídicos. Estamos falando de um direito fundamental da sociedade colombiana de superar esta ameaça que tanto sangue produziu em nosso país”.

Apontando o caminho oposto, o presidente Lula ponderou que Uribe deve refletir se a via militar é o melhor caminho para combater o narcotráfico na Colômbia, propôs que se encontre um caminho de paz para o continente e criticou a fala do colombiano de que as bases dos Estados Unidos não são novidade no continente: “Quando o companheiro Uribe tenta mostrar que as bases já existem na Colômbia desde 1952, eu queria dizer, de maneira muito carinhosa, que, se as bases americanas estão na Colômbia desde 1952 e ainda não há soluções para o problema, deveríamos pensar em outra coisa que pudéssemos fazer em conjunto para resolver os problemas”.

O equatoriano Rafael Correa, presidente pro-tempore da Unasul, foi mais enfático nas críticas, destacando que “me preocupa muito e não posso aceitar que um documento dos Estados Unidos nos trate como o quintal de trás”.

Em certo momento, a presidente argentina, Cristina Fernández Kirchner, interrompeu o debate para pedir calma. “Devemos conciliar seu projeto de cooperação com os Estados Unidos. E devemos fazer com que os seus vizinhos tenham a certeza de que esse acordo não vai afetar a segurança e a institucionalidade de seus países”, disse ela, dirigindo-se a Uribe.

Com informações da TeleSur e da Reuters