Crise do capitalismo

TVT exibe documentário inédito de Abigail Disney sobre as desigualdades nos EUA

“O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas”, realização da ativista e sobrinha-neta de Walt Disney, aborda o legado nefasto dos super-ricos em seu país

Divulgação/Fork Filmes
Divulgação/Fork Filmes
"Se amanhã, toda empresa norte-americana pagar um salário mínimo para sustentar a vida, estarei feliz"

São Paulo – O Cine TVT exibe neste sábado (14), às 21h30, o documentário O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas. Inédita na televisão brasileira, a exibição é uma parceria da emissora com a Mostra Ecofalante de Cinema, que a lançou neste ano. O filme aborda a crise do capitalismo norte-americano, que explode em desigualdade e endividamento da juventude, entre outras mazelas sociais.

O documentário é coproduzido pela ativista e documentarista Abigail Disney, sobrinha-neta de Walt Disney. Nascida em um dos berços familiares mais bem sucedidos dos Estados Unidos, Abigail parte de sua história para elaborar um estudo de caso sobre o legado nefasto dos super-ricos em seu país. Entre as relações destrutivas dos donos do poder econômico, histórias de racismo, corporativismo e, sobretudo, da ilusão do “sonho americano”, ideologia que promove uma exploração ímpar na sociedade local, com reflexos estruturais em todo o ocidente capitalista.

Antes de chegar ao Cine TVT, passou por seleções como a da Mostra Oficial do Festival Sundance Film Festival, Hot Docs Festival e Ecofalante, entre outros. Além de Abigail, assina a direção da obra a documentarista Kathleen Hughes. Já a produção conta com Aideen Kane, e edição de David Cohen.

Ensaio pessoal

“A obra apresenta um ensaio pessoal de Abigail sobre a profunda crise da desigualdade na América. A história começa em 2018, depois de Abigail se encontrar com trabalhadores que lutam para colocar comida na mesa. Ela poderia, como herdeira, sem papel funcional no conglomerado internacional, usar seu nome famoso para pressionar a Disney e outras corporações para tratar os trabalhadores de forma mais humana?”, indaga a sinopse original norte-americana.

Abgail passou, então, a examinar a história recente do capitalismo norte-americano e o aprofundamento das desigualdades. Ela lembra que seu avô, Roy Disney, cofundador da empresa, mesmo sendo um conservador, jamais permitiria que os trabalhadores da empresa passassem fome. “É o lugar mais feliz da Terra”, afirmava. Contudo, a fachada criada naquela época caiu por terra com o aprofundamento das desigualdades. Hoje, os mais jovens vivem em um regime de exploração absoluta, com o encarecimento sem igual no custo de vida, onde os cargos altos da empresa de sua família ganham 800 vezes mais do que a base da pirâmide.

Disney e outras empresas

A desigualdade que explode nos Estados Unidos levou o presidente Joe Biden, democrata, a firmar um acordo com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com compromissos de valorização dos trabalhadores. Inclusive, Biden que pouca história na luta trabalhista carrega, passou a apoiar publicamente greves e mobilizações de classe por condições mais dignas.

Abigail explica suas motivações para trabalhar no longa-metragem. “É tão básico. Acontece em todas companhias americanas. Eu acho que tinha esperanças de que na Disney as coisas fossem melhores. Me pareceu que tínhamos uma história para contar ali. Não apenas sobre a dissonância cognitiva das pessoas que esperam ‘o lugar mais feliz da Terra’, mas também sobre as histórias de trabalhadores nos últimos 50 anos. Como isso aconteceu? Como ficou normal, ninguém fala nada? O mundo mudou tanto? Então, parece que precisamos explorar”, disse.

Assim, a documentarista explica que um dos objetivos de sua luta é para que as empresas americanas paguem um salário mínimo decente aos trabalhadores. “Se amanhã, toda empresa norte-americana pagar um salário mínimo para sustentar a vida, estarei feliz. Muito mudou, as empresas precisam do entendimento de como tratar o dinheiro. Eles precisam pensar nas diferenças e desigualdades. Hoje, pensam em como pagar o mínimo possível para maximizar os lucros dos acionistas e executivos (…). Quando falamos de lucros, o valor dos trabalhadores precisa estar na mesa.”