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Posse de Xiomara Castro recebe 40 líderes mundiais em Honduras

“Hoje se inicia governo do povo”, disse a presidenta, 12 anos após o golpe de Estado que depôs o ex-presidente Manuel Zelaya

Reprodução Twitter
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Xiomara Castro com Cristina Kirchner: "não é fácil ser uma presidenta mulher"

São Paulo – Com a presença de 40 líderes mundiais, a presidenta eleita em Honduras, Xiomara Castro de Zelaya, tomou posse na tarde desta quinta-feira (27). Primeira mulher eleita para presidir o país da América Central,Xiomara Castro se define como “feminista, antipatriarcal, revolucionária e inclusiva”. Participaram da cerimônia lideranças como a ex-presidenta Dilma Rousseff, as vice-presidentas Cristina Kirchner, da Argentina, e Kamala Harris, dos Estados Unidos, o rei da Espanha, Felipe VI.

A posse reuniu cerca de 30 mil pessoas no Estádio Nacional de Tegucigalpa, que nas primeiras horas do dia já estava cheio com a presença de populares, militantes e convidados. Antes de ir ao estádio, a presidenta eleita assistiu a uma missa na Basílica de Suyapa. Xiomara Castro celebrou dizendo que hoje se “inicia o governo do povo, depois de 12 anos de luta e resistência”. Desse modo, a presidenta eleita, de 62 anos, mulher do ex-presidente Manuel Zelaya, relembra o golpe que o derrubou em 28 de junho de 2009.

Em seu discurso de posse, Xiomara Castro defendeu “arrancar pela raiz” a corrupção dos 12 anos de ditadura.“Temos o direito de nos refundarmos. A catástrofe econômica que recebo não tem comparação na história do país”, disse.

Segundo a ONG Fórum Social da Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras, o país tem 71% de seus quase 10 milhões de habitantes vivendo na pobreza. Além disso, a alta taxa de homicídios – quase 40 por 100.000 habitantes – é decorrente em grande parte das ações de cartéis de drogas e gangues.

A eleição de Xiomara Castro representa a volta da esquerda ao poder, a exemplo do que ocorreu em outros países da América Latina, como Argentina, Bolívia, Peru e Chile. Ela venceu as eleições em 28 de novembro de 2021, com uma coalizão liderada pelo Libre.

Governo da refundação

Por meio das redes sociais, a nova presidenta compartilhou suas expectativas. “Esta é minha Honduras, sua gente, seus valores e suas riquezas. Deixemos para trás o passado sombrio para renascer e mostrar ao mundo o que verdadeiramente somos. Juntos faremos nossa pátria ainda maior.”

Xiomara Castro utilizou sua conta no Twitter também para apresentar integrantes do seu governo. “Anuncio ao país parte da equipe de mulheres  e homens que me acompanharão no projeto de refundação de Honduras”, tuitou.

Eduardo Reina será o titular do Ministério de Relações Exteriores. José Manuel Matheu, da Saúde, e o general Ramón Sabillon, da Seguridade. A magistrada eleitoral Rixi Moncada terá a seu encargo a pasta de Finanças. Pedro Barquero será o secretário de Desenvolvimento Econômico. José Manuel Zelaya (sobrinho do ex-presidente Manuel Zelaya) será ministro de Defesa. José Carlos Cardona, do Desenvolvimento e Inclusão Social.

A chefa de Estado nomeou seu filho Héctor Zelaya como secretário privado e a Lucky Medina como titular da Secretaria de Recursos Naturais. Ivis Alvarado como chefe de Comunicações da Presidência.

Refundar o país não será tarefa fácil. Castro precisa do apoio do Parlamento para colocar em prática seu plano de governo, mas não tem maioria. Aém disso, alas rivais do Libre decidiram eleger cada uma seu próprio presidente do Congresso. Antes mesmo de iniciar sua gestão, o governo já vive uma crise.

posse de xeomara castro
Mônica Valente (Foro de São Paulo), Camilo Capiberipe (deputado PSB-AP), Dilma, Cristina Kirchner e Paulo Teixeira (deputado PT-SP) na posse de Xeomara Castro em Honduras (Reprodução/Twitter)

Golpes judiciais

Antes da posse da presidenta eleita Xiomara Castro, a ex-presidenta e atual vice-presidenta argentina, Cristina Kirchner discursou em um evento e advertiu sobre a região. Querem “voltar a instalar o neoliberalismo” e há um grupo de autodenominados “libertários” que planeja “diretamente suprimir o Estado”.

Kirchner apontou que na América Latina, da mesma maneira que antes se financiavam os golpes militares agora financiam golpes judiciais.

“Não é fácil ser uma presidenta mulher”, avisou Cristina, porque ainda existe na sociedade e nos “companheiros e companheiras” um “resto de uma sociedade patriarcal, que chamamos de machismo”, lembrou.

A ex-presidenta Dilma Rousseff também participou do evento realizado na Universidade Nacional Autônoma de Honduras, e foi ovacionada pelo público.


Com informações do jornal Página|12