Eleições argentinas

Patricia Bullrich declara apoio à Milei no segundo turno

Para sociólogo argentino, apoio de Patricia Bullrich ao extremista Javier Milei revela a “pobreza intelectual e moral” da direita tradicional argentina

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Patricia Bullrich teve 23,83% dos votos no 1º turno, atrás de Massa (36,68%) e Milei (29,98%)

São Paulo – Terceira colocada no primeiro turno das eleições argentinas, Patricia Bullrich anunciou nesta quarta-feira (25) seu apoio ao candidato da extrema direita, Javier Milei. Ela anunciou a decisão após reunião com Milei e o ex-presidente Mauricio Macri, na noite de ontem. Representante da direita tradicional, Bullrich justificou o apoio ao candidato extremista, em nome do combate ao “kirchnerismo”, representado pelo candidato da coalizão União pela Pátria, Sergio Massa, atual ministro da Economia, que ficou em primeiro na votação do último domingo (22).

Bulrrich afirmou, porém, que seu apoio se dá a “título pessoal”, e não representa a coalizão Juntos pela Mudança. Partidos, como a União Cívica Radical (UCR), que compõem a aliança junto com o Proposta Republicana (PRO) – de Bullrich, ameaçaram romper, em caso de apoio à coalizão A Liberdade Avança, liderada por Milei.

Durante o último debate televisivo, Milei chegou a acusar Bullrich de ter “colocado bombas em um jardim de infância”. Isso porque ela integrou a Juventude Peronista nos anos 1970, durante o auge da atividade guerrilheira dos Montoneros. Bullrich por sua vez, afirmava que as ideias de Milei eram “más e perigosas”.

“À noite tive um encontro com Javier Milei, onde tivemos uma conversa a respeito do que haviam sido suas declarações, e nos perdoamos mutuamente. Hoje a pátria necessita que sejamos capazes de perdoarmos porque está em jogo algo muito importante para o futuro”, justificou a ex-candidata.

“Com Javier Milei temos diferenças. Por isso competimos, não as ocultamos”, disse ela. No entanto, afirmou que “a maioria dos argentinos elegeu a mudança e temos a obrigação de ficar neutros”.

Ainda no início da semana, Milei cortejou Bullrich, chegando a sugerir que ela seria um bom nome para ocupar o Ministério da Segurança. Ela, por outro lado, afirmou hoje que “não há pacto, nem acordo, nem cogoverno”, ao declarar seu apoio, em entrevista coletiva na sede do PRO.

Bullrich evoca perigo “kirchnerista”

“A urgência do momento exige que não fiquemos neutros diante do perigo da continuidade do kirchnerismo. Há 20 anos que Cristina (Kirchner), (Alberto) Fernandéz e (Sergio) Massa e outros mais nos afundam na decadência. A Argentina não pode ter outro ciclo kirchnerista, isso traria uma nova etapa histórica liderada por um populismo corrupto que pode levar a Argentina a uma decadência final”, disse Bullrich.

Ainda mais sincera e fatalista, Bullrich afirmou que uma eventual vitória de Massa colocaria em risco o futuro do seu grupo político. “Se ganha o kirchnerismo, Juntos pela Mudança irá a uma dissolução final”.

Ela foi ministra da Segurança no governo Macri (2015-2019), quando a Argentina voltou aos braços do Fundo Monetário Internacional (FMI). A escassez crônica de reservas se agravou ainda mais em função das medidas restritivas impostas pelo fundo. Nesse sentido, o apoio de Macri a Bullrich acabou atrapalhando a campanha da candidata, que foi superada por Milei. Típica candidata da direita, o combate ao crime e a corrupção foram suas principais bandeiras.

Para o sociólogo Ariel Goldstein, professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), o apoio de Bullrich a Milei demonstra a “pobreza intelectual e moral” da direita tradicional argentina. “Seguem sendo os mesmos de sempre: antidemocráticos, neonazis e elitistas. Contra o povo argentino e a favor dos militares repressores da ditadura”, afirmou pela redes sociais.