Crise

Parlamento da Crimeia decide por anexação à Rússia e convoca referendo

No dia 16 de março, população da região vota para ratificar união. Presidentes da União Europeia se reúnem em Bruxelas para discutir imposição de sanções ao governo de Vladimir Putin

Maxim Shipenkov/EFE

Manifestantes se reuniram em frente ao Legislativo da Crimeia para cobrar incorporação à Rússia

São Paulo – O parlamento da região autônoma da Crimeia, na Ucrânia, aprovou hoje (6) por unanimidade a incorporação de seu território à Rússia. Para ratificar a decisão do Legislativo, será convocado um referendo sobre o assunto no dia 16 de março, em que a população da Crimeia decidirá se continua como uma república autônoma da Ucrânia, ou se passa a fazer parte da Rússia.

“Esta é a nossa resposta à desordem e ilegalidade de Kiev. Decidiremos nosso futuro nós mesmos”, disse Sergei Shuvainikov, parlamentar da Crimeia. “A decisão de hoje foi adotada pelos deputados como uma política de responsabilidade. Nós vivemos aqui e entendemos melhor a situação”, completou Vladimir Konstantinov, presidente do parlamento.

A data do referendo foi fixada duas semanas antes do previsto inicialmente. Além de indagar sobre a autonomia da Crimeia, a consulta popular também perguntará aos eleitores se a Constituição de 1992 da Crimeia deve ou não ser restabelecida. De acordo com tal Carta Magna, a república autônoma da Crimeia pertence à Ucrânia, mas tem suas relações com Kiev definidas com base em acordos mútuos.

Todas as empresas e propriedades públicas ucranianas que se encontram em território da Crimeia serão nacionalizadas caso seja ratificada a incorporação, anunciou o vice-primeiro-ministro desta república ucraniana, Rustam Temirgaliev.“Todas as empresas estatais da Ucrânia serão nacionalizadas e passarão a ser de propriedade da região autônoma da Crimeia.”

Na semana passada, o Legislativo da Crimeia já havia, em sessão extraordinária, condenado a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, rompido com Kiev, sinalizado por mais autonomia, dissolvido o Executivo regional e empossado o governo pró-Moscou de Sergei Axionov.

A Crimeia tem 2 milhões de habitantes, dos quais 60% são russos, 26% se consideram ucranianos e 12% tártaros. Minoria étnica na região, os tártaros são fervorosamente anti-Rússia. Durante a 2ª Guerra Mundial, a Crimeia fazia parte do território da União Soviética; em 1944, o líder Joseph Stálin mandou deportar povos tártaros da Crimeia para a Ásia Central, acusando-os de colaboração com o regime nazista.

Após a decisão do parlamento da Crimeia de convocar um referendo, os tártaros pediram hoje uma reação urgente da comunidade internacional. “A decisão [do Legislativo] foi tomada por loucos”, disse Refat Chubarov, líder dos tártaros.

O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Iatseniuk, disse em Bruxelas que a Crimeia é e continuará a ser parte integrante do país e pediu a Moscou que não apoie o que chamou de governo ilegítimo. “O referendo é uma decisão ilegítima e não tem qualquer base legal”, disse Iatseniuk, ao se referir à decisão do Parlamento da Crimeia de convocar uma consulta popular sobre uma eventual secessão da península do sul da Ucrânia.

Iatseniuk, que falava ao final de uma reunião com chefes de Estado da União Europeia (UE), desafiou a Rússia a construir uma nova relação com a Ucrânia.

Na mesma reunião, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou que o comportamento da Rússia “é inaceitável e deve ter consequências”, que crescerão se Moscou não tomar medidas de distensão. “Hoje há três coisas sobre a mesa: primeiro, temos que nos assegurar de que Ucrânia e Rússia se sentem para dialogar; segundo, demonstrar na União Europeia (UE) que ajudaremos os ucranianos e, em terceiro lugar, enviar uma clara mensagem ao governo russo que o que aconteceu é inaceitável e que deve ter consequências.”

Da mesma forma que Cameron, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defendeu analisar como iniciar o diálogo entre as partes, talvez em um grupo de coordenação ou de contato, mas advertiu que não podem passar da ordem do dia, sobretudo quando ainda não houve essas conversas diplomáticas.

Em paralelo com esses esforços para fomentar um diálogo entre a Ucrânia e a Rússia, os líderes abordarão hoje a possibilidade de impor punições a Moscou. “Vamos falar de sanções, sanções de diferente natureza. Se essas precisarem ser executadas, haverá que decidir assim que se vir quanto o processo diplomático avançar”, explicou Merkel.

Merkel respaldou o pacote de ajuda aprovado ontem pela Comissão Europeia (CE) no valor de 11 bilhões de euros a fim de “ajudar as pessoas que lutaram pela liberdade e democracia e garantir que suas aspirações se cumpram”.


O presidente francês, François Hollande, afirmou que a UE oferecerá ao governo ucraniano o respaldo de que necessita para empreender as reformas econômicas e organizar as eleições presidenciais.O presidente francês disse que hoje “será feita a pressão mais forte possível para que a Rússia se envolva no processo” para reduzir a tensão, enquanto precisou que “essa pressão inclui, certamente, o eventual recurso às sanções”.

O objetivo da pressão será “abrir a via do diálogo”, que é o que já fizeram ontem em Paris, disse Hollande em referência à reunião de ontem com o secretário de Estado americano, John Kerry e o ministro russo das Relações Exteriores.

Hollande afirmou que a UE deve fazer “uma pressão suficientemente forte” para diminuir a tensão, abrir a via do diálogo e poder permitir finalmente à Ucrânia decidir seu destino”.“Para ser eficazes, todos os europeus devem falar da mesma maneira, com a mesma determinação e com os mesmos objetivos”, acrescentou Hollande, que assinalou que se a UE “estiver unida poderá conseguir uma solução”.

Com informações da Agência EFE e do OperaMundi.