Para Lula, decisão contra Irã é ‘birra’ de pai que quer distribuir palmadas

Chanceler Amorim entende que países pobres foram pressionados a votar por sanções e Hillary Clinton pensa que Brasil poderá ter papel importante em próxima negociação

O presidente Lula classificou como “birra” a decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) de impor novas sanções ao Irã por conta do programa nuclear do país iraniano. O brasileiro, que ao lado do governo turco negociou um acordo aceito pelo Irã, disparou críticas à decisão capitaneada pelos Estados Unidos.

“Em vez chamarem o Irã para a mesa [de negociação], eles resolveram, na minha opinião pessoal, apenas por birra, manter a sanção. Acho que foi um equívoco a tomada de decisão. Às vezes, me dá a impressão daquele pai duro que é obrigado a dar umas palmadas no filho, mesmo que ele não mereça. Acho que o Conselho de Segurança jogou fora uma oportunidade histórica de negociar tranquilamente o programa nuclear iraniano”, disse, depois de participar de evento em Natal (RN).

Lula está seguro de que a imposição de sanções prova que os outros países não queriam negociar. O acordo apresentado pelo Brasil e aceito pelo Irã tinha exatamente as mesmas bases exigidas pelos Estados Unidos em documento enviado há poucas semanas ao Palácio do Planalto.

Para o presidente, a decisão enfraquece o Conselho de Segurança e mostra que a atual formação do organismo não reflete a atual distribuição de forças do mundo. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi na mesma linha ao falar sobre as resoluções. Em audiência na Câmara, o chanceler apontou que as nações mais pobres que compõem o conselho podem ter sido pressionadas. “Há nações que são mais frágeis. Quando devíamos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) também não podíamos dizer tudo que pensávamos”, afirmou.

Ao falar sobre a possibilidade de o governo de Mahmoud Ahmadinejad não respeitar as resoluções, Amorim foi irônico: “Em matéria de não cumprir resoluções do Conselho de Segurança, certamente o Irã não é o único país”. Os Estados Unidos, mais de uma vez, desrespeitaram determinações da maioria dos integrantes da ONU, como quando levou adiante a invasão do Iraque sem a autorização do conselho.

Amorim reiterou ainda que o Brasil busca a paz internacional e por isso tentou estreitar laços com o Irã. “Se nós formos procurar o relacionamento apenas com aqueles que são nossa imagem e semelhança, não damos um passo à frente”.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, que comandou a imposição de sanções ao Irã e chegou a afirmar que o Brasil era ingênuo por negociar com Ahmadinejad, comentou o tema durante viagem a Colômbia. “Na contínua aproximação diplomática com o Irã, penso que a Turquia e o Brasil continuarão a desempenhar um papel importante”, disse.

Mas a secretária não pondera que a porta para negociações fechou-se com as sanções impostas via ONU. O Irã havia deixado claro que, ao atender a todos os requisitos apresentados pela Casa Branca, estava aberto ao diálogo. No entanto, Ahmadinejad reiterou ao longo das últimas semanas que não voltaria a negociar o tema caso sofresse novas restrições.

Com informações da Agência Brasil e da Reuters.