EUA ignoram acordo e mostram proposta de punição ao Irã

Departamento de Estado norte-americano deixa de lado termos estabelecidos entre Lula e Ahmadinejad e afirma que tem consenso para impor sanções via ONU

O chanceler Celso Amorim afirmou que aqueles que ignorarem o acordo, preferindo sanções, “assumirão suas responsabilidades” (Foto: Tobias Schwarz. Reuters)

São Paulo – Os Estados Unidos apressaram-se em mostrar nesta terça-feira (18), um dia depois do acordo estabelecido entre Brasil, Irã e Turquia, uma proposta de punição ao país asiático. O texto, que já estava pronto para ser apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, propõe sanções que atingem bancos e empresas iranianos.

A proposta foi redigida dentro do Departamento de Estado dos Estados Unidos e, de acordo com a chefe do departamento, Hillary Clinton, já tem a anuência de Grã-Bretanha, França, China e Rússia, os demais membros permanentes do Conselho de Segurança, além da Alemanha.

O texto, revelado pela agência Reuters, pede “aos Estados que adotem medidas adequadas para proibir (…) a abertura de novas agências, subsidiárias ou escritórios de representação de bancos iranianos”, e é visto como mais uma mostra de que os Estados Unidos querem, a todo custo, punir o governo de Mahmoud Ahmadinejad, que não se alinha aos parceiros estadunidenses no Oriente Médio.

O acordo assinado na segunda-feira não foi capaz de frear o ímpeto da Casa Branca. No texto, negociado pelo presidente Lula e pelo chanceler Celso Amorim, o Irã aceita fornecer urânio levemente enriquecido para a Turquia, recebendo de volta o produto enriquecido a 20%. Tal percentual é suficiente para pesquisas na área médica, mas fica longe dos 90% necessários para a fabricação de material bélico. A possibilidade de que o Irã produza uma bomba atômica é o principal argumento para os Estados Unidos levarem adiante o tensionamento com a nação de Ahmadinejad. Mas, como ressaltado por especialistas e pelo governo brasileiro, o acordo mostra o contrário, que o Irã está interessado na aplicação da energia nuclear para fins pacíficos.

O chanceler Celso Amorim reafirmou nesta terça que ignorar a proposta fechada em Teerã é descartar a possibilidade de uma saída pacífica para o caso iraniano. “Todos os pontos que eram considerados essenciais para esse acordo de troca de urânio, que era considerado o passaporte para uma solução negociada e pacífica, foram preenchidos”, declarou.

A proposta assinada por Lula e Ahmadinejad precisa passar pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pelo Conselho de Segurança da ONU, órgão que já impôs três pacotes de sanções ao Irã e no qual os Estados Unidos contam com poder de veto.

Para Analúcia Danilevicz Pereira,  professora de História Contemporânea e de Relações Internacionais da ESPM de Porto Alegre, o impasse sobre o programa nuclear iraniano não se trata de uma questão técnica. Segundo ela, está em curso um processo de privatização das enormes reservas petrolíferas do Irã. “Como o Irã se relaciona com muito mais aproximação de países como China, Rússia e Ásia Central, para os Estados Unidos é muito incômodo que esse processo não beneficie o Ocidente de uma maneira geral”, observou.