Telhado de vidro

Milei ataca justiça social em discurso em Davos, mas argentinos já vivem à base de macarrão

O presidente argentino atacou a justiça social e o socialismo nesta quarta-feira, em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Enquanto discursava em defesa de suas ideias “libertárias”, a população argentina tem a vida mais cara

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Argentinos em manifestação contra medidas de Milei em Buenos Aires, em dezembro

São Paulo – O presidente da Argentina, Javier Milei, atacou a justiça social, o socialismo e o feminismo nesta quarta-feira (17), em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A crítica enfática ao papel do Estado foi acompanhada de alerta à elite econômica e financeira de que o Ocidente estaria “em perigo” por uma visão de mundo que “conduz ao socialismo”. Enquanto discursava em defesa de suas ideias “libertárias”, a população argentina tem a vida piorada.

“Não se deixem amedrontar nem pela ‘casta’ nem pelos parasitas que vivem do Estado”, sugeriu Milei às lideranças. “O Ocidente está em perigo porque aqueles que devem defender os valores ocidentais se encontram cooptados por uma visão de mundo que inexoravelmente conduz ao socialismo e, em consequência, à pobreza”, disse.

Desde dezembro, quando Milei tomou posse e desvalorizou a moeda local, todos os preços estão em disparada.  Com o fim do congelamento dos preços adotados no governo peronista de Alberto Fernández, a inflação que já era alta, em 13%, saltou para mais 26% em um mês.

O consumo já em queda então despencou. Segundo a Confederação Argentina da Média Empresa (Came), o comércio varejista reduziu em 14% as vendas. E o pior: alimentos e bebidas foram os itens mais cortados.

Ao jornal Folha de S.Paulo, Fernando Savore, vice-presidente da Confederação Geral de Armazéns da Argentina e há 40 anos dono de mercearia na região metropolitana de Buenos Aires disse que muitos dos que faziam compras mensais ou semanais passaram a ir ao mercado dia a dia. E cenas de clientes trocando de marca ou deixando produtos no caixa ao ver o preço total do carrinho se multiplicaram. “Eu agora mesmo estou publicando 60 promoções nas redes sociais, senão as pessoas não conseguem comprar”, disse.

Ainda segundo ele, a estimativa é de um declínio de 20% nas vendas dos comércios de bairro em dezembro. E baixas ainda maiores em janeiro e fevereiro, de até 50% por mês. Mas não sabe como as mercearias vão enfrentar março, época de volta às aulas, quando as famílias têm gastos extras.

Ao jornal, uma jovem argentina de 22 anos, grávida do terceiro filho, contou que não consegue seguir a recomendação da nutricionista, de comer verduras. E que o jeito é comer macarrão no almoço e na janta, que é mais barato. “Às vezes eu não como para que as crianças comam. No último mês piorou muito. Antes já estávamos mal, mas se conseguia de um jeito ou de outro. Agora já não”, disse.

Sobre o Natal, a jovem, cujo marido está desempregado, disse que foi um dos piores de sua vida: “Não pudemos comprar nada. Antes se comia um assado [churrasco], carne empanada, frango na brasa. Dessa vez no ano novo tivemos que fazer empanada de peito de frango, que também foi caro, e não sobrou nada de dinheiro”, disse.

O presidente argentino Javier Milei, que já disse que não pretende cumprir metas ambientais estipuladas até 2030, afirmou que o socialismo “sustenta que os seres humanos causam danos ao planeta e que deve (o planeta) ser protegido a todo custo”. Ao final do discurso, Milei foi aplaudido pelos presentes.

Milei se reuniu com o chanceler britânico, David Cameron. E antes de voltar ao seu país, deverá se encontrar com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

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