Honduras tem novo presidente eleito. Zelaya deve deixar embaixada brasileira

Brasil não reconhece legitimidade da eleição, mas pode rever posição, adotando postura crítica em relação ao país caribenho

Eleito com 55,9% dos votos, o novo presidente de Honduras, Porfírio “Pepe” Lobo Sosa, de 63 anos, toma posse nesta quarta (27) para quatro anos de mandato. O principal desafio dele é resgatar a credibilidade e a confiança internacionais.

Depois do golpe em junho do ano passado, as instituições públicas de Honduras ficaram desacreditadas, uma vez que integrantes das Forças Armadas, da Suprema Corte e do Congresso Nacional organizaram a ação para depor o então presidente Manuel Zelaya.

Logo depois das eleições, em novembro, Pepe Lobo passou a costurar uma série de acordos com os presidentes dos países vizinhos e participou de todas as reuniões comandadas por interlocutores do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em busca de uma solução para o fim do impasse.

Também foi responsável pelas articulações na tentativa de elaborar um decreto de anistia para perdoar os envolvidos no golpe de Estado e em busca de um acordo para permitir a saída sem riscos de Zelaya do país. Desde setembro de 2009, o presidente deposto está abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa (a capital hondurenha).

Salvo-conduto

O presidente deposto, Manuel Zelaya, se prepara para deixar a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa (capital hondurenha) ainda nesta quarta em direção a Santo Domingo (capital da República Dominicana). Pepe Lobo fez um acordo com o presidente daquele país, Leonel Fernández, para conceder salvo-conduto a Zelaya e a sua mulher Xiomara, permitindo que deixem a embaixada.

Desde 21 de setembro de 2009, Zelaya, a mulher e um grupo de correligionários estão hospedados na embaixada. O local é supervisionado noite e dia por militares e policiais. Eles não podem deixar a sede brasileira. Tudo que entra na embaixada deve ser minuciosamente fiscalizado pelas autoridades hondurenhas.

Os observadores brasileiros acompanham à distância as negociações para a concessão de salvo-conduto a Zelaya. Oficialmente, o governo do Brasil não foi informado sobre o acordo e a eventual saída do presidente deposto da embaixada.

Uma das hipóteses é retirar Zelaya da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, acompanhado pela mulher e pelo presidente da República Dominicana, em um helicóptero.

A interlocutores, o presidente deposto sinalizou que ficará apenas um período em Santo Domingo. Ele espera um  “acordo de reconciliação nacional”. Com isso, retornaria a Honduras sem ameaças nem riscos.

Na terça-feira (26), a Anistia Internacional apelou ao presidente eleito para que investigue os eventuais abusos ocorridos durante o golpe de Estado e nos dias posteriores a ele. De acordo com o organismo, houve violência sexual cometida contra crianças e mulheres, espancamentos e ameaças de intimidação a autoridades.

Diplomacia

O governo brasileiro resiste à ideia de reconhecer e legitimar as eleições que consagraram Porfirio “Pepe” Lobo Sosa como presidente de Honduras. No próximo mês, no entanto, durante reunião do Grupo do Rio, no México, o presidente Lula pode mudar de opinião e aceitar o novo governo do país vizinho. Antes, porém, deverá reiterar sua indignação com o golpe de Estado que depôs o então presidente Manuel Zelaya em junho do ano passado.

Para o governo brasileiro, é inadmissível aceitar eleições que foram realizadas em clima de golpe de Estado. Pepe Lobo foi eleito em 29 de novembro de 2009 – cinco meses após o golpe e na gestão do presidente golpista Roberto Micheletti.

Lula, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, se manifestaram contra o golpe e a favor da restituição de Zelaya ao poder. No entanto, o presidente eleito assume com Zelaya ainda hospedado na Embaixada do Brasil na capital hondurenha.

Garcia sinalizou que na reunião da Cúpula do Rio – que será realizada de 20 a 23 de fevereiro em Cancún – o governo brasileiro poderá rever sua posição em relação à eleição de Pepe Lobo e ao futuro governo de Honduras. No entanto, manterá o discurso de crítica a ações golpistas e antidemocráticas.

Fonte: Agência Brasil