Honduras tem novo presidente eleito. Zelaya deve deixar embaixada brasileira
Brasil não reconhece legitimidade da eleição, mas pode rever posição, adotando postura crítica em relação ao país caribenho
Publicado 27/01/2010 - 11h18
Eleito com 55,9% dos votos, o novo presidente de Honduras, Porfírio “Pepe” Lobo Sosa, de 63 anos, toma posse nesta quarta (27) para quatro anos de mandato. O principal desafio dele é resgatar a credibilidade e a confiança internacionais.
Depois do golpe em junho do ano passado, as instituições públicas de Honduras ficaram desacreditadas, uma vez que integrantes das Forças Armadas, da Suprema Corte e do Congresso Nacional organizaram a ação para depor o então presidente Manuel Zelaya.
Logo depois das eleições, em novembro, Pepe Lobo passou a costurar uma série de acordos com os presidentes dos países vizinhos e participou de todas as reuniões comandadas por interlocutores do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em busca de uma solução para o fim do impasse.
Também foi responsável pelas articulações na tentativa de elaborar um decreto de anistia para perdoar os envolvidos no golpe de Estado e em busca de um acordo para permitir a saída sem riscos de Zelaya do país. Desde setembro de 2009, o presidente deposto está abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa (a capital hondurenha).
Salvo-conduto
O presidente deposto, Manuel Zelaya, se prepara para deixar a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa (capital hondurenha) ainda nesta quarta em direção a Santo Domingo (capital da República Dominicana). Pepe Lobo fez um acordo com o presidente daquele país, Leonel Fernández, para conceder salvo-conduto a Zelaya e a sua mulher Xiomara, permitindo que deixem a embaixada.
Desde 21 de setembro de 2009, Zelaya, a mulher e um grupo de correligionários estão hospedados na embaixada. O local é supervisionado noite e dia por militares e policiais. Eles não podem deixar a sede brasileira. Tudo que entra na embaixada deve ser minuciosamente fiscalizado pelas autoridades hondurenhas.
Os observadores brasileiros acompanham à distância as negociações para a concessão de salvo-conduto a Zelaya. Oficialmente, o governo do Brasil não foi informado sobre o acordo e a eventual saída do presidente deposto da embaixada.
Uma das hipóteses é retirar Zelaya da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, acompanhado pela mulher e pelo presidente da República Dominicana, em um helicóptero.
A interlocutores, o presidente deposto sinalizou que ficará apenas um período em Santo Domingo. Ele espera um “acordo de reconciliação nacional”. Com isso, retornaria a Honduras sem ameaças nem riscos.
Na terça-feira (26), a Anistia Internacional apelou ao presidente eleito para que investigue os eventuais abusos ocorridos durante o golpe de Estado e nos dias posteriores a ele. De acordo com o organismo, houve violência sexual cometida contra crianças e mulheres, espancamentos e ameaças de intimidação a autoridades.
Diplomacia
O governo brasileiro resiste à ideia de reconhecer e legitimar as eleições que consagraram Porfirio “Pepe” Lobo Sosa como presidente de Honduras. No próximo mês, no entanto, durante reunião do Grupo do Rio, no México, o presidente Lula pode mudar de opinião e aceitar o novo governo do país vizinho. Antes, porém, deverá reiterar sua indignação com o golpe de Estado que depôs o então presidente Manuel Zelaya em junho do ano passado.
Para o governo brasileiro, é inadmissível aceitar eleições que foram realizadas em clima de golpe de Estado. Pepe Lobo foi eleito em 29 de novembro de 2009 – cinco meses após o golpe e na gestão do presidente golpista Roberto Micheletti.
Lula, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, se manifestaram contra o golpe e a favor da restituição de Zelaya ao poder. No entanto, o presidente eleito assume com Zelaya ainda hospedado na Embaixada do Brasil na capital hondurenha.
Garcia sinalizou que na reunião da Cúpula do Rio – que será realizada de 20 a 23 de fevereiro em Cancún – o governo brasileiro poderá rever sua posição em relação à eleição de Pepe Lobo e ao futuro governo de Honduras. No entanto, manterá o discurso de crítica a ações golpistas e antidemocráticas.
Fonte: Agência Brasil