em Caracas

Figueiredo diz que houve ‘progresso real’ no diálogo entre oposição e governo da Venezuela

Chanceler brasileiro afirma em meio a negociação que críticos do chavismo se comprometeram a não apoiar atos antidemocráticos e que forças políticas estão se unindo em prol da reconciliação

MIGUEL GUTIERREZ/EFE

Esta é a segunda rodada de negociação em Caracas devido aos protestos que já provocaram 41 mortes

Caracas – Novamente na Venezuela, país que ainda vive focos de protestos contra a gestão de Nicolás Maduro, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou hoje (15) que houve um “progresso real” no diálogo entre a oposição e o governo.

“Foi excelente”, disse a Opera Mundi e à BBC Brasil, quando saía da sede da vice-presidência venezuelana, onde a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) e o chavismo se reuniram a portas fechadas e conseguiram chegar a pontos de acordo.

Segundo ele, ambos os lados “estão dispostos a discutir todos os temas” em questão. “Já há progressos claros em vários deles, sejam temas políticos, sejam econômicos e isso mostra claramente que estamos no caminho correto para a pacificação do país”, garantiu.

Ao lado da colombiana María Ángela Holguín e do equatoriano Ricardo Patiño, Figueiredo é um dos chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) que acompanham o processo de diálogo no país como testemunhas, papel também desempenhado pelo núncio apostólico do Vaticano, Aldo Giordano.

Dentre os avanços da reunião citados pelo chanceler brasileiro, estão o “rechaço completo à violência venha de onde vier, a vontade de investigar os casos pendentes, o desejo de que todo debate político seja feito no marco da constituição e, portanto, dentro de uma institucionalidade democrática, o que é fundamental”.

As mortes relacionadas aos protestos desatados no país há mais de dois meses já chegam a 41, incluindo tanto chavistas como opositores. Parte dos manifestantes acredita que a presença nas ruas poderia levar à queda do governo.

Esta era a proposta da campanha “A Saída” iniciada pela então deputada opositora María Corina Machado, que teve o mandato cassado, e pelo líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, preso desde 18 de fevereiro por acusação de ser autor intelectual de atos de violência. A campanha também contou com a adesão do prefeito do distrito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma.

Questionado sobre a capacidade da coalizão opositora para controlar o setor mais radical da oposição que continua nas ruas, Figueiredo afirmou que a MUD tem demonstrado que se empenhará no processo de diálogo e no estabelecimento da paz e a “condenar claramente, mesmo aqueles que sejam da oposição, que não tenham um procedimento democrático”. “Portanto eu acho que as forças políticas venezuelanas estão se unindo em prol de uma reconciliação nacional e isso é fundamental”, complementou.

Sobre o projeto de lei da anistia apresentado pela oposição, que visa à libertação do que consideram como “presos políticos” da era chavista, o chanceler admitiu que “há uma dificuldade em torno da discussão imediata da questão”. Ao final da reunião com o governo nesta terça, o secretário executivo da aliança opositora, Ramón Guillermo Aveledo, afirmou que a proposta não tinha sido aceita e que a MUD buscaria “outros caminhos” para abordar a questão.

Otimista com o desenvolvimento do diálogo acompanhado pela Unasul e um possível esfriamento das tensões no país, apesar das fortes diferenças ideológicas entre as partes interlocutoras, Figueiredo afirmou, no entanto, que o governo venezuelano “já deixou claro que todos os temas estão sobre a mesa e que nenhum será evitado”.