Bocas de urna dão vitória a Ollanta Humala no Peru

Segundo pesquisas, eleitores decidiram, por cinco pontos de diferença, dar vitória a nacionalista sobre Keiko Fujimori, vista como retorno ao passado de repressão

São Paulo – O Peru rejeitou neste domingo (5) dar vitória a Keiko Fujimori e escolheu o nacionalista Ollanta Humala, de 48 anos, para comandar o país até 2016. Todas as pesquisas de boca de urna divulgadas após o fechamento das urnas indicaram a vitória do ex-militar por uma margem de cinco pontos de diferença.

Com isso, será preciso aguardar a contagem de votos para ratificar a vitória, que passou a ser celebrada nas redes sociais por brasileiros que trabalham na campanha na nação vizinha e em diversas cidades. De todo modo, deve se confirmar a mesma distribuição geográfica do primeiro turno, quando Humala foi bem votado no interior do país, em especial na região Sul, e perdeu em Lima. Espera-se ainda certa divisão ao Norte, muito graças a uma campanha marcada por baixo nível e diversos episódios de difamação, que chegou aos momentos finais em empate técnico.

Durante toda a disputa, Keiko tentou atribuir ligação do oponente a Hugo Chávez, da Venezuela, e chegou a insinuar conexões com as Farc, grupo armado da Colômbia. Em eleições que lembraram outras ocorridas na América do Sul, a intenção era a de demonstrar que Humala significaria um retrocesso em termos de políticas econômicas – isso em um país que tem crescido a uma média de 8% ao ano.

Prevaleceu, no entanto, a plataforma que propõe inclusão social como prioridade da gestão, valendo-se da sensação de boa parte da população do interior de que não colheu os frutos do robusto crescimento. Permanece um alto índice de pobreza, e o nacionalista se dispõe a criar um imposto sobre a mineração para financiar a redução das desigualdades. 

Além disso, Humala trabalhou durante toda a campanha a imagem de um político que respeita os contratos firmados pelo país e a estabilidade econômica, elogiando o modelo adotado no Brasil durante os oito anos de Lula, uma questão fundamental para conquistar o apoio de setores da classe média e afastar parte dos boatos que se espalharam. Afastou-se, ao mesmo tempo, de Chávez, a quem pediu que não se intrometesse em assuntos internos dos peruanos.

Contra o passado

Humala, que já havia disputado o segundo turno em 2006 contra Alan García, foi ameaçado por um novo fracasso. No começo de maio, perdeu a dianteira nas pesquisas para Keiko, que recebeu o apoio extraoficial do atual presidente e da máquina do Estado, distribuiu abertamente benefícios econômicos a potenciais eleitores e tentou atribuir ao adversário a pecha de autoritário.

Pesou contra ela, no entanto, aquele que foi seu grande trunfo para chegar à reta final da disputa. Keiko é filha de Alberto Fujimori, que governou o país durante dez anos, parte deles sob um regime de repressão. Baseado na sensação de perigo criada em torno do grupo armado Sendero Luminoso, Fujimori comandou uma política de violação de direitos humanos que teve na esterilização forçada de mulheres um de seus pontos mais cruéis.

A principal bandeira de campanha de Keiko foi a anistia ao pai, detido em um quartel militar de Lima. Isso valeu a Humala uma série de apoios importantes, como o do Nobel de Literatura Vargas Llosa e do ex-presidente Alejandro Toledo. É com Toledo, por sinal, que o provável presidente sinalizou querer formar parceria para assegurar a governabilidade. Com minoria no Congresso e dando sequência ao abrandamento de seu discurso, Humala admite ceder em alguns pontos de seu governo, desde que isso não afete a inclusão social.