Apuração confirma vitória da direita no Chile

Eleição teve grande índice de abstenção. Para especialista, vitória de Piñeira não provocará mudanças significativas nas relações com os vizinhos da América do Sul

Novo presidente-eleito, Sebastián Piñera (centro), faz discurso inaugural ao lado de sua esposa Cecília (dir.) e seu filho Sebastian (esq), em Santiago. O multimilionário direitista é economista formado em Harvard (Fonte: Reuters/Victor Ruiz Caballero)

Santiago (Chile) – Apenas duas horas depois de encerradas as votações no Chile, realizadas no último domingo, 17, o governo da presidente Michelle Bachelet reconheceu a derrota do candidato governista, o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz (Concertación). Um porta-voz do governo confirmou a vitória do oposicionista Miguel Sebastián Piñeira (Alianza), de centro-direita. A disputa foi a mais apertada das duas últimas décadas no país. Piñeira obteve 51,8% contra 48,1% de Frei.

De acordo com os dados oficiais, dos 8.285.186 chilenos aptos a votar somente 4.111.567 foram às urnas. O elevado número de abstenções teria sido causado pelo período de férias e também pela falta de motivação do eleitorado. Porém, os votos nulos e brancos foram em menor número do que o esperado. Houve 2,5% de votos nulos e apenas 0,74% de brancos.

A derrota, de acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Eduardo Vidigal, deveu-se ao fato de a atual presidente do Chile, Michele Bachelet, não ter conseguido transferir os mais de 80% de sua popularidade a Frei.  Para o estudioso, o candidato foi mal escolhido, pois Frei já tinha uma imagem desgastada.

As últimas eleições em que a direita obteve vitória, por meio do voto, foram há 52 anos. Na época, o ex-presidente Jorge Alessandri, da direita, venceu o socialista Salvador Allende.

Poucas mudanças

A vitória do candidato de oposição no Chile sobre o governista Eduardo Frei Ruiz não deve provocar grandes mudanças no cenário chileno, ainda de acordo com o professor Vidigal.

“O Chile tem uma extensão internacional muito particular e as mudanças serão poucas. Continuará com uma política econômica essencialmente liberal e um diálogo fluido com os vizinhos da região, porém, com alguma distância”, disse, ao comentar o cenário sul-americano em entrevista nesta segunda-feira (18) à TV Brasil.

Vidigal explicou que a direita que vai assumir a presidência do Chile não é a mesma comandada pelo ex-presidente Augusto Pinochet (1973-1990). Segundo ele, o partido já se converteu para o centro e provavelmente irá manter as principais políticas desenvolvidas pela coligação Concertación (de centro-esquerda) nos últimos 20 anos.

Ele descartou a possibilidade de o Chile ingressar no Mercosul após as eleições deste ano. Atualmente, o país aparece como associado ao bloco, mas não como membro. “A mudança de governo não interfere”, afirmou, destacando que o Chile adota tarifas de importação muito baixas para os países do Mercosul.

Ao avaliar a possibilidade de um governo de coalisão no Chile, Vidigal não acredita que Frei possa fazer parte do governo de Piñera, mas considera provável que outros membros da Concertación tenham participação. “A proximidade dos dois candidatos é muito grande, os pais de ambos eram amigos”, disse.

Fonte: Agência Brasil