Oriente Médio

Alistamento obrigatório de árabes no Exército de Israel abre racha no governo

Caso da comunidade de 1,6 milhão de habitantes que vivem entre a identidade palestina e a cidadania israelense leva ministro ameaçar 'derrubar' a gestão de Netanyahu

Jim Hollander. EFE

Uma das possibilidades de acordo está na proposta de que ultra-ortodoxos entrem no Exército aos 21 anos

Jerusalém – O ministro isralense de Finanças, Yair Lapid, líder do principal parceiro na coalizão do Governo de Israel, ameaçou hoje (27) derrubar o Executivo se o alistamento do serviço militar não for universalizado. “Quero ser muito claro sobre a repartição equatativa da obrigação: ou há equidade ou o governo virá abaixo”, declarou Lapid em reunião de seu partido, o Yesh Atid, segunda força política de Israel.

Lapid, um ex-jornalista que centrou sua campanha eleitoral em janeiro no apoio à classe média e à extensão do serviço militar (ou uma prestação de substituição) aos coletivos isentos (judeus ultra-ortodoxos e árabes de Israel), insistiu na seriedade de sua ameaça. “Quem pensa que eu entrei na política somente para resolver a catástrofe econômica deixada pelo governo anterior, não entende o que fazemos aqui”, disse, em referência aos cortes e altas de impostos aprovados recentemente e que afundaram sua popularidade.

As declarações são registradas depois que o ministro de Defesa, Moshe Yaalon (do partido direitista Likud, majoritário na coalizão do governo) comentou, de madrugada e no último momento, sobre um possível acordo para o alistamento dos jovens ultra-ortodoxos.

Em reunião da comissão ministerial encarregada do caso, Yaalon se negou a aceitar um dos artigos mais importantes, o da “obrigatoriedade” do serviço, e exigiu que o recrutamento destes jovens a partir de 2016 seja feito pelo titular da Defesa.

A proposta estabelece a “universalidade” do serviço militar (ou do prestação de substituição), com a única exceção de 1.800 alunos, que seriam declarados “estudantes prodígios” do Torá e seguiriam sua formação rabínica em centros acadêmicos religiosos.

O presidente da Comissão, o ministro de Ciência e ex-chefe do serviço secreto Shabak, Yacov Pery (também de Yesh Atid), se reunirá hoje com Yaalon para tentar encontrar uma fórmula que respeite o princípio de “obrigatoriedade” do serviço, que em casos normais começa aos 18 anos, mas que para os ultra-ortodoxos seria adiado até os 21.

Tanto Yesh Atid, como Yisrael Beiteinu e Habait Hayehudi, todos eles na coalizão liderada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dedicaram grande importância em suas campanhas à repartição equitativa do alistamento. O recrutamento dos ultra-ortodoxos, que desfrutam de isenção automática desde 1948, o ano da fundação do Estado de Israel, foi um dos assuntos mais polêmicos nas eleições de janeiro, na qual vários partidos exigiram pôr fim a uma situação que consideram discriminatória.

Todos os israelenses são chamados para prestar o serviço militar (36 meses os homens e 24 as mulheres), salvo os ultra-ortodoxos e os chamados árabes de Israel, que estão isentos.

O caso desta última comunidade, de 1,6 milhão de habitantes e que vive entre sua identidade nacional palestina e sua cidadania israelense, foi outro dos assuntos mais polêmicos da reunião de ontem à noite, porque o partido ultranacionalista Yisrael Beiteinu exigiu incluir uma proposta de “serviço civil” obrigatório para eles.

Na sessão, os ministros também não chegaram a um acordo sobre se serão responsabilizados “juridicamente” os diretores dos centros rabínicos cujos estudantes não acodem às fileiras. A lei que a comissão estuda afeta cerca de 8 mil jovens ultra-ortodoxos e propõe que pelo menos 3.200 prestem serviço militar e outros 2 mil algum tipo de serviço social.

Às isenções dos “estudantes prodígio” da Torá se somariam ao redor de outros mil que costumam ficar de fora por razões médicas ou psicológicas. O alistamento foi requerido pela Corte Suprema israelense no ano passado, quando declarou “discriminatória” a lei de isenções de 2002 e obrigou o Governo a formular outra.