Oriente Médio

Negociadora de paz afirma que Israel está disposto a ‘dolorosas concessões’, mas critica Abbas

Ministra da Justiça culpa palestinos por falta de acordo de paz, e diz que tempo corre contra solução de dois estados

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Para a ministra da Justiça do governo israelense, Tzipi Livni, dolorosas concessões são a via para o processo de paz

São Paulo – A ministra da Justiça do governo israelense, Tzipi Livni, afirmou em uma entrevista coletiva para diplomatas e jornalistas internacionais que a paz baseada na solução de dois Estados implicará em “dolorosas concessões”, mas que estas são a “única via” para a sobrevivência do país como um Estado democrático. No entanto, ela criticou tanto o movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, quanto o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, por não ser “um parceiro ideal para a paz”. Além de ministra, ela é a responsável pela negociação de paz com grupos palestinos.

Segundo ela, qualquer acordo com Abbas tem o mesmo valor de um cheque proveniente de uma conta bancária vazia, já que a ANP não controla a Faixa de Gaza, que está nas mãos do Hamas, que não reconhece Israel nem defende a paz com os vizinhos. Ela também levantou dúvidas sobre a legitimidade de Abbas no comando da Cisjordânia pela ausência de eleições há anos.

“Uma questão legítima a ser feita é com quem nós vamos assinar um acordo de paz. (…) No passado, tínhamos laços com quem queria fazer paz com Israel, mas era incapaz de obtê-la. E, às vezes, tínhamos aqueles que não queriam a paz com Israel mas eram fortes o suficiente para obtê-la. E, agora, temos os dois”, disse Livni, em referência à ANP e ao Hamas, respectivamente. “Portanto, qual a utilidade de assinarmos um acordo?”

Para ela, a única solução seria um acordo internacional para isolar e deslegitimizar o Hamas. E pediu para que a comunidade internacional faça com que Abbas mude de ideia e não busque a reconciliação com o grupo rival, “pois isso só tornaria o Hamas mais forte”.

Os comentários de Livni, que já ocupou o posto de chanceler entre 2006 a 2009, durante a última administração do partido centrista Kadima, vão ao encontro de uma entrevista do vice-primeiro-ministro e responsável pelas Finanças do país, o também centrista Yair Lapid, que na semana passada classificou Abbas como “um dos fundadores do conceito de vitimização dos palestinos”.

Ela admitiu, no entanto, que “o tempo corre contra a solução de dois estados”, ao comentar sobre a possibilidade de retomar o processo de paz em poucas semanas. “Cada dia que se passa sem uma solução ao conflito ou sem negociações é uma vitória para alguns, mas esses são felizmente uma minoria em Israel”, afirmou a ex-líder da centro-esquerda israelense, que se reuniu em quatro ocasiões com o secretário de Estado americano, John Kerry, nos últimos cinco dias.

“Está claro que teremos que tomar alguns riscos, mas serão riscos calculados”, afirmou Livni, para quem a “segurança de Israel deve ser preservada nas negociações”.

Nas últimas eleições, em janeiro, Livni conseguiu com sua nova formação, o Hatnuah, apenas seis deputados, que no entanto serviram para transformar o partido em um dos membros mais importantes da nova coalizão de governo formada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Livni destacou que seu papel no novo Executivo é “colocar de novo a paz como parte da agenda”, após as conversas entre israelenses e palestinos terem ficado de fora do debate político nacional nos últimos anos. Segundo sua opinião, retomar as negociações pode, além disso, contribuir para mudar o processo de “deslegitimização” que Israel enfrenta diante da comunidade internacional.

“Perder legitimidade reduz as possibilidades de defender a si próprio”, afirmou frente aos que argumentam que um acordo com os palestinos poderia pôr Israel em risco, como assegurou ontem o ministro da Economia, Naftali Benet, líder do partido ultradireitista Habait Hayehudi.

Livni destacou que as negociações precisam dar resposta a “todas as questões”, entre elas assuntos como fronteiras, refugiados, segurança, água e Jerusalém. “É a única maneira de acabar com o conflito”, disse antes de ressaltar que os palestinos precisam declarar claramente que o acordo “será o final do conflito”.

Em relação à questão dos refugiados, a ministra afirmou que o futuro Estado palestino deverá recebê-los e descartou que estes possam voltar a seus lugares de origem, que estão atualmente em Israel.