Guerra de informação

Analistas questionam versão do suposto ‘massacre’ russo em cidade ucraniana

Scott Ritter, ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, diz que acusações contra Moscou carecem de evidências médicas

"Operação especial" da Rússia na Ucrãnia, como define Vladimir Putin, chega a seu 40º dia nesta segunda-feira

São Paulo – Em entrevista, textos publicados na imprensa internacional e no seu Twitter, Scott Ritter, ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos vem questionando a veracidade do suposto “massacre” na cidade de Bucha, na Ucrânia, pelo qual o ocidente acusa a Rússia. A “denúncia” foi feita por vídeos, reportagens e fotos divulgados por autoridades e mídia ucranianas, e são literalmente copiados pela imprensa ocidental – incluindo a brasileira –, mostrando “centenas de corpos” espalhados pela cidade, que fica a 25 quilômetros de Kiev. “Em um momento em que a opinião pública ocidental está sendo moldada por uma intensa operação de guerra de informação exclusivamente projetada para pintar a Rússia como uma imagem negativa, alguém poderia pensar que observadores objetivos esperariam pela perícia (das imagens) antes de gritar ‘culpado'”, escreveu o especialista naquela rede social.

“A perícia médica básica responderia a três questões-chave: a hora da morte, o mecanismo da morte e se os corpos foram movidos. Vamos ver se os ucranianos fornecem dados médicos forenses verificáveis ​​para sustentar suas acusações”, ironizou Ritter, em entrevista à Agência Tass. O analista de questões militares não poupou, em suas críticas, nem o Papa Francisco, que no sábado (2) condenou a invasão russa da Ucrânia. Francisco diz pretender ir ao país a convite do presidente Volodymyr Zelenski.


Analista militar critica o Papa Francisco

“Em 2015, o Papa apelou a todas as partes para que acabassem com a ‘violência fratricida’ e a ‘guerra entre cristãos’ na Ucrânia. Isso está muito longe da condenação aberta do que o Papa chamou de guerra ‘sacrílega’ da Rússia hoje. É como se Azov não existisse. Eu mantenho minha crítica”, comentou Ritter no Twitter. A referência é ao Batalhão Azov, grupo extremista neonazista que combate na Ucrânia junto com as forças de Kiev.


Falta lógica em acusação da Ucrânia

Analistas ouvidos pelo site Sputnik Brasil e jornalistas não vinculados aos interesses de Washington avaliam que as “peças não se encaixam” na versão do chamado “massacre de Bucha”. Neste domingo (3), o Ministério da Defesa (MD) da Rússia afirmou que fotografias e vídeos publicados por Kiev em Bucha são provocação e encenação. “Durante o tempo em que esta localidade esteve controlada pelas Forças Armadas russas, nenhum morador sofreu alguma ação violenta”, disse o ministério, que aponta a campanha de Kiev para colocar na Rússia a pecha de o “mal” , contra o Ocidente, que seria então o “bem”, nessa “história muito mal contada”, diz o Sputnik.

Nas imagens, nenhum dos “corpos” de supostos mortos nas imagens publicadas pelos ucranianos enrijeceu após os quatro dias da morte. Não havia “manchas cadavéricas características” e o sangue das feridas não estava coagulado, indicaram análises preliminares. Especialistas comentam que não há lógica na narrativa de que os russos tenham promovido tal ação justamente ao deixar a cidade se, até então, nada disso havia ocorrido em Bucha. O MD afirma que seus soldados não bloquearam em nenhum momento as saídas da cidade, como se tem afirmado.

Clima de terror

Segundo a professora Isabela Gama, especialista em relações internacionais e em segurança e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), citada pelo site russo, “muitas peças não se encaixam na história”. “Por que os militares russos deixariam corpos de vítimas de tortura à mostra de todos em um cenário que não está nem um pouco favorável à Rússia? Não faz sentido isso vir a público hoje, e ninguém ter visto antes (os corpos nas ruas)”, diz ela. Para a pesquisadora, a Ucrânia pode estar tentando “forçar uma intervenção internacional” no país e as negociações diplomáticas poderiam ser apenas uma forma “de ganhar tempo”, enquanto se cria um clima de terror para incentivar apoio militar mais amplo.

Escravos e escravas sexuais

“Em Mariupol, as forças russas descobriram um grande grupo de pessoas submetidas à condição de escravos e escravas sexuais, e uma das vítimas teve a suástica pintada no peito”, aponta o jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares e em relações internacionais, ainda de acordo com o Sputnik.

Rezende diz que organizações humanitárias ocidentais que acompanham o conflito de perto, principalmente na região de Donbass, são unânimes em dizer que “não houve nenhuma violação das leis internacionais por parte dos russos”. Segundo ele, não foram os russos que romperam com leis de guerra, mas os ucranianos, “que já atiraram na perna de pessoas, o que pode causar morte lenta e dolorosa”.

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