Voz dissonante

Turquia: ‘Já declaramos posição de não aderir às sanções contra a Rússia’

País tenta mediar conflito e propõe publicar um plano de como as sanções contra a Rússia serão gradualmente suspensas

Sputnik/ Ramil Sitdikov
Sputnik/ Ramil Sitdikov
O turco Erdogan conversou com Putin e ofereceu formalmente que Ancara seja a sede de um encontro com Zelensky

São Paulo – Na tarde de sexta-feira (1°), o porta-voz da presidência da Turquia, Ibrahim Kalin, reafirmou que o país não apoia as sanções contra a Rússia impostas pelo Ocidente liderado pelos Estados Unidos. “Já declaramos nossa posição de que não vamos aderir às sanções. Usamos os direitos que nos dá a Convenção de Montreux”, disse o porta-voz, em referência ao tratado de 1936 que dá à Turquia o controle dos estreitos do Bósforo e de Dardanelos e regula a atividade militar na região. Navios de guerra não são permitidos nesses locais. “Ou seja, os navios de guerra ficarão longe da guerra. Esta é a nossa posição, aceita pelas partes”, acrescentou Kalin, segundo o site Sputnik Brasil.

Para a Turquia, membro da Otan, “queimar todas as pontes” com a Rússia é inaceitável, disse Kalin. Eventuais restrições econômicas contra a Rússia não seriam benéficas para a Turquia, segundo ele. “Sanções turcas contra a Rússia seriam um golpe na economia turca. Atingiria mais a Turquia do que a Rússia”, disse o porta-voz.

Ele defendeu a construção de um plano para a suspensão gradual das sanções contra a Rússia, pelo Ocidente, para se viabilizar um acordo entre Moscou e Kiev, em guerra desde 24 de fevereiro, quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou a invasão do país vizinho.

Plano para suspender sanções

“É necessário esclarecer todos os detalhes, todo o processo. Por exemplo, publicar um plano de como as sanções contra a Rússia serão gradualmente suspensas. Isso deve ser feito, porque se houver acordos, é preciso saber tudo sobre as etapas seguintes”, disse Kalin à emissora turca TRT Haber.

Ainda na sexta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, conversou com Putin por telefone e ofereceu formalmente que Ancara seja a sede de um encontro entre o presidente russo e o ucraniano Volodymyr Zelensky. A Turquia tem tentado, há semanas, ser mediadora confiável do conflito no leste europeu. Na quinta-feira, sediou uma reunião de negociações em Istambul.

Os turcos, entretanto, têm dosado seus posicionamentos para manter o equilíbrio, já que mantêm boas relações com os dois países em conflito. O mesmo Ibrahim Kalin, durante a semana, declarou à CNN que as exigências da Rússia sobre a anexação da Crimeia e a independência da região de Donbass são “muito maximalistas” e “não realistas”.

Fox News: “Nossos líderes estão mentindo”

A abordagem da mídia ocidental, de modo geral, é claramente pró-Ucrânia e está longe da imparcialidade. Em alguns casos, porém, esse regra é quebrada. Durante a semana, o comentarista Tucker Carlson, da conservadora e mesmo direitista Fox News, fez um comentário fugindo ao lugar-comum.

O texto é intitulado “Nossos líderes estão mentindo sobre a invasão da Ucrânia por Putin, e (isto) é um insulto”. Segundo o conhecido comentarista, as opiniões prevalentes no ocidente “estão forçando toda a população americana a manifestar slogans infantis sobre o bem contra o mal”.

No seu comentário, Carlson mencionou o conservador britânico Nigel Farage, líder do Brexit, que em 2014 falava da “longa lista de fracassos e contradições da política externa” ocidental. Naquele ano, Farage comentou sobre a “provocação desnecessária a Vladimir Putin”, ao se referir ao golpe contra o então presidente da Ucrânia, o pró-russo Viktor Yanukovych, derrubado por um golpe patrocinado pelos Estados Unidos.

“Incentivamos diretamente a revolta na Ucrânia que levou à derrubada do presidente Yanukovych, e isso levou à reação de Vladimir Putin, e a moral da história é: se você cutucar o urso russo com um pau, não se surpreenda quando ele reagir”. Farage aconselhava então, em 2014, na fala citada por Tucker Carlson na Fox News: “Não vamos continuar provocando Putin, gostemos dele ou não”. Como se viu, a advertência do conservador britânico não foi ouvida.