"Inverno sombrio"

Em último debate antes das eleições nos EUA, Biden prevê mais 200 mil mortes pela pandemia

Trump voltou a colocar a culpa na China. Apesar das mais de 220 mil mortes, disse que o país “aprendeu a lidar com o vírus”. E prometeu a chegada da vacina “nas próximas semanas”

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Microfones silenciados facilitaram andamento do último debate antes das eleições

São Paulo – Mais uma vez, a pandemia do novo coronavírus foi um dos temas principais do debate entre Donald Trump e Joe Biden nesta quinta-feira (22) na corrida pelas eleições nos EUA. O candidato democrata à presidência afirmou que os Estados Unidos devem viver um “inverno sombrio” em função do aumento de número de casos da doença. Ele previu que o país deve ter mais 200 mil norte-americanos mortos pela covid-19.

Biden acusou o presidente Trump de não ter um “plano claro” para o enfrentamento da pandemia. “Este é o mesmo sujeito que disse que tudo terminaria na Páscoa”, disparou Biden.

Mais contido, Trump disse que o país está “aprendendo a conviver com o vírus”. E afirmou que uma vacina deve estar pronta “em semanas”, sem precisar a data. Sobre a acusação do seu adversário de ser o principal responsável pelas mais de 220 mil mortes causadas pela doença, Trump afirmou: “Assumo total responsabilidade. Não é minha culpa que esse vírus chegou. É culpa da China”.

Realizado na Universidade de Belmont, em Nashville, no estado do Tennessee, o último debate antes das eleições – que serão realizadas em 3 de novembro – ocorreu de forma mais civilizada do que o anterior. Isso porque o microfone do adversário era silenciado enquanto um dos candidatos eram questionados sobre os temas principais. Além da pandemia, os candidatos também falaram sobre racismo, imigração e mudanças climáticas.

Racismo

Outra pérola proferida por Trump foi quando afirmou que ele é “o presidente que mais fez pelos negros desde Abraham Lincoln (que aboliu a escravidão em 1865)”. Biden rebateu, dizendo que “este ‘Abraham Lincoln’ que temos aqui é um dos presidentes mais racistas que já tivemos na história moderna. Ele joga gasolina em cada um dos incêndios racistas”.

Em seguida, Trump afirmou que as leis anticrime apoiadas por Biden nas décadas de 1980 e 1990 levaram ao aumento do encarceramento da população negra. O democrata reconheceu o erro. “As pessoas não devem ir para a cadeia por terem um problema com álcool ou drogas”, afirmou o democrata.

Imigração

Biden acusou o atual governo pela conduta “criminal” de separar cerca de 500 crianças imigrantes de seus pais, que não foram mais localizados após serem deportados. “Isso nos torna motivo de piada e viola todas as noções de quem somos como país.” Trump se defendeu, dizendo que as crianças atravessaram a fronteira sem suas famílias, trazidas por “coiotes”. Ele disse ainda que as gigantescas celas de metal dos centros de detenção de imigrantes nos Estados Unidos, onde as crianças estão retidas, foram construídas durante o governo Obama, quando Biden era vice-presidente.

Clima

Enquanto Biden voltou a defender a transição energética para fontes mais limpas – como a eólica e a solar – Trump afirmou que essas novas tecnologias ainda não são capazes de fornecer o suficiente para as indústrias norte-americanas. Ele alegou, por exemplo, que os geradores eólicos são feitos na China ou na Alemanha e que os impactos ambientais na sua produção são maiores do que as usinas termoelétricas movidas a gás natural.

O presidente disse, ainda, que se adotasse as propostas ambientais defendidas pelos democratas, as empresas norte-americanas “quebrariam”. Biden, por sua vez, atacou a poluição causada pelas refinarias de petróleo. E disse que em menos de uma década o país pode chegar a um “ponto de não retorno” em relação aos efeitos do aquecimento global.

Ataques pessoais

Trump atacou mais uma vez o filho do candidato democrata, Hunter Biden, por supostamente ter enriquecido com negócios suspeitos na Ucrânia. Além disso, afirmou que o próprio Biden teria recebido “US$ 3,5 milhões por meio do prefeito de Moscou”, sem apresentar provas dessa alegação.

Por outro lado, Biden cobrou novamente que o presidente apresentasse suas declarações de impostos. Em reportagem publicada pelo jornal The New York Times nesta semana Trump mantém uma conta secreta na China e pagou quase US$ 190 mil em impostos no país. Ainda no mês passado, o mesmo jornal havia divulgado que o republicano teria pago apenas US$ 750 de imposto de renda entre 2016 e 2017.

“Soubemos que esse presidente pagou 50 vezes mais imposto na China, tem uma conta bancária secreta na China, faz negócios na China. E, de fato, está falando que eu peguei dinheiro? Eu não peguei um único centavo de qualquer país, nunca”, disse Biden.