Aliança progressista

Lula, Dilma e lideranças latinas pressionam Trump pelo fim do bloqueio a Cuba e Venezuela

Em reunião nesta sexta (10), Grupo de Puebla criticou vigência do embargo durante pandemia do coronavírus. “É inaceitável e viola direito internacional humanitário”

Grupo Puebla/Divulgação
Grupo Puebla/Divulgação
Em documento emitido após reunião, aliança progressista destacou que, apenas com cooperação internacional, o mundo poderá enfrentar crise sanitária e econômica

São Paulo – Líderes da América Latina, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionam o governo de Donald Trump pelo fim do bloqueio e sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos sobre Cuba e Venezuela. Organizados no Grupo de Puebla – que se estrutura por uma agenda progressista em contraponto aos governos de direita da região – , eles se reuniram na sexta-feira (10), por videoconferência, para abordar os problemas de saúde, econômicos e sociais ocasionados pela pandemia do coronavírus. E destacaram que a vigência da sanção no atual contexto de emergência sanitária é “inaceitável e viola direito internacional humanitário”. 

O governo cubano já havia denunciado que o embargo estadunidense, aplicado em 1962 após a revolução comunista no país, seria ainda “mais cruel e genocida do que normalmente é” na pandemia. Na Venezuela, as sanções começaram em 2015 contra o governo de Nicolás Maduro, e foram intensificadas por Trump em 2019, que proibiu empresas de vender e comprar produtos do país. 

“Nós temos que dizer em alto e bom som que nós não aceitamos mais os Estados Unidos fazerem bloqueio unilateral contra qualquer país, eles não têm o direito, eles têm que respeitar as decisões do Conselho de Segurança da ONU. Não podem nesse momento achar que podem bloquear Cuba, Venezuela, Irã, Síria. Eles não têm esse direito, não têm aval da ONU”, lembrou o ex-presidente Lula no encerramento da reunião. 

Na semana passada, organizações articuladas no Foro de São Paulo e na Assembleia Internacional dos Povos, além de outras 28 entidades brasileiras, também repudiaram a continuidade do embargo que, na prática, coloca milhões de vidas em risco ao dificultar o acesso a suprimentos médicos e sanitários. 

Lula ainda pressionou as entidades multilaterais na ajuda aos países mais pobres para enfrentar o coronavírus, sob apoio das dezenas de lideranças políticas e sociais latinas que compõem o Grupo Puebla. 

Criado em 2009, o bloco é formado por outros ex-chefes de Estado, como Dilma Rousseff – que também participou da reunião desta sexta –, Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai) e José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), entre outros. 

Mais pobres não podem pagar pela crise

Único presidente em exercício e que também participa do bloco, o argentino Alberto Fernández foi elogiado pelas lideranças por responder à crise articulando os campos da saúde e da economia para proteger a população, especialmente os mais vulneráveis, e por defender a criação, pelo países que compõem o G-20, de um Fundo de Solidariedade. 

De acordo com o Grupo de Puebla, que pediu o perdão das dívidas às entidades que emitem crédito internacional, a crise não pode ser paga pelos pobres. “A gente não pode discutir um papel secundário do FMI e do Banco Mundial, que são tão ativos e altivos para cobrar a dívida dos países pobres, mas que agora deveriam estar oferecendo dinheiro para ajudar os países mais pobres a poder comprar vacinas, remédios, testagem para que as pessoas possam fazer testes em cada país”, ressaltou Lula.

Em nota divulgada ao final da reunião virtual, o bloco manifestou condolências às famílias das vítimas do coronavírus, e prestou uma mensagem de reconhecimento e admiração aos milhões de homens e mulheres da saúde “que hoje estão travando uma batalha direta contra a pandemia”.

O grupo também pontuou a necessidade de sistemas públicos fortes, na contramão das políticas neoliberais dos governos de direita e conclamaram os atuais líderes a financiar medidas concretas de apoio tanto às mulheres que sofrem violência doméstica – e que vêm aumentando nesses tempos de isolamento social – como de integração da América Latina e do Caribe e da cooperação em nível mundial. 

Na defesa, o Grupo de Puebla ainda destacou críticas à omissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) diante da pandemia e à condução do governo de Jair Bolsonaro no Brasil, chamando atenção para a importância da Organização Mundial da Saúde (OMS), ao que o ex-presidente Lula sintetizou:

“Nós estamos percebendo que estamos diante de um novo desafio, um desafio da gente discutir que mundo queremos construir depois do coronavírus, o mundo mentiroso do Trump e de Bolsonaro no Brasil não servem”, afirmou.