Crise no Paraguai é agravada pela situação econômica do país
Governo de Mario Abdo corre risco de impeachment após descoberta de acordo prejudicial ao país feito com governo de Bolsonaro
Publicado 09/08/2019 - 18h09
São Paulo — A senadora paraguaia Esperanza Martinez, integrante da Frente Guasú, coalizão de partidos de esquerda e centro-esquerda criada em 2010, diz ser insustentável a situação do atual presidente do país, Mario Abdo Benítez. O chefe do Executivo corre o risco de sofrer impeachment após ter sido descoberta a negociação feita pelo seu governo com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), relativa a compra de energia gerada pela hidrelétrica de Itaipu num acordo em que o Paraguai pagaria US$ 50 milhões adicionais por ano, até 2023.
Desde que o acordo veio à tona, tendo sido posteriormente anulado, numa ação do governo Bolsonaro para ajudar o aliado paraguaio, o assunto tem amplamente discutido no país vizinho, dando origem a fortes protestos. Envolvido na negociação, o vice-presidente, Hugo Velásquez, foi há poucos dias atingido por ovos após sair de uma entrevista a um meio de comunicação local.
“As pessoas estão muito enojadas, sem esperança, e não acreditam em nada no Presidente da República. É impossível ficar com um governo que tem quatro anos pela frente e que não tem nenhuma credibilidade. O Presidente da República não tem nenhuma possibilidade de fazer a inauguração de um hospital ou de uma escola, porque as pessoas vão protestar”, afirmou a senadora Esperanza Martinez, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
A senadora explica que a crise política é ainda agravada pelas dificuldades econômicas do Paraguai. O país passa por uma desaceleração econômica nos últimos dois anos Paraguai, com crise na agricultura, queda no preço das commodities, sistema de saúde com falta de medicamentos e de funcionários, e aumento do desemprego.
“Não precisamos apenas resolver o problema da negociação de Itaipu com o Brasil, temos muitos negócios com o Brasil sobre a tríplice fronteira, o comércio na fronteira, importações e muitas situações econômicas ligadas ao Brasil. E temos um representante que não tem credibilidade. Não é uma situação social fácil no Paraguai. Precisamos de um governo forte, que tenha um plano de trabalho para os próximos cinco anos. E é impossível com um presidente que hoje é motivo de piada, que não pode falar com o setor empresarial, não pode viajar ao exterior”, critica Esperanza.
Apesar do Partido Colorado, ao qual Maria Abdo é filiado o presidente, manter o apoio ao presidente, a integrante da Frente Guasú acredita que a combinação da crise econômica com a mobilização social, pode fazer avançar o processo de impeachment. “Precisamos de uma saída democrática e de uma nova equipe de governo, porque não é possível sustentar, política e economicamente, o presidente Maria Abdo Benitez”, afirma a senadora.
Na entrevista, Esperanza ainda definiu o presidente Jair Bolsonaro como a representação de um modelo fascista, autoritário e violento, desejou que o Brasil volte a ser uma democracia inclusiva e solidária, e prestou seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O Paraguai tem um grande carinho e damos muita força para ele, sua família, e todos os brasileiros que defendem a democracia no Brasil, um país que sempre trabalhou pela construção de uma América Latina unida.”