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Brasil e Paraguai anulam acordo que podia levar ao impeachment do presidente Mario Abda

Em meio a turbulências no país vizinho, jornal paraguaio denuncia suplente de Major Olímpio por atuar em "nome da família Bolsonaro" em negócio de compra de energia

Arquivo EBC
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Apesar de favorável ao Brasil, governo de Bolsonaro rompe acordo de venda de energia de Itaipu e ajuda presidente do Paraguai a enfrentar ameaça de impeachment

São Paulo — Os governos do Brasil e do Paraguai assinaram nesta quinta-feira (1º), em Assunção, documento que cancela o acordo bilateral relacionado ao uso da energia de Itaipu. O acordo energético, agora cancelado, havia sido feito em maio e favorecia o Brasil, pois estabelecia um cronograma de compra de energia que faria o governo paraguaio gastar cerca de US$ 200 milhões a mais. O cancelamento anunciado hoje, assinado pelo embaixador brasileiro no Paraguai, Carlos Simas Magalhães, ocorre em meio a forte turbulência política no país vizinho. A oposição ao governo do presidente Mario Abdo Benítez havia anunciado na quarta-feira (31) que entraria com pedido de impeachment em função do negócio realizado com o Brasil.

Com a notícia do cancelamento do acordo bilateral, o grupo político ligado ao ex-presidente Horacio Cartes, chamado de Honor Colorado, anunciou a retirada do apoio à abertura do processo de impeachment. Com isso, a oposição paraguaia não terá os votos mínimos necessários para aprovar o afastamento de Abdo.

Em um pronunciamento realizado no Palácio de los López, sede do governo paraguaio, Abdo disse que o cancelamento do acordo foi possível graças a “negociações durante toda a noite”. Ele ainda agradeceu o apoio de “países amigos e organismos internacionais”. Mais cedo, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) havia divulgado nota defendendo o presidente paraguaio e destacando a “excelente relação pessoal” entre os dois presidentes. 

Denúncia

Apesar de anunciar o cancelamento do acordo energético e, com isso, esfriar a possibilidade de impeachment, o governo do presidente Abdo ainda deve seguir enfrentando críticas. De acordo com o senador Eusebio Ramon Ayala (PLRA), “ainda há muito o que explicar, especialmente se o presidente tiver sido salvo por Bolsonaro. Vamos querer saber em troca de quê”, disse a jornalistas.

A situação pode complicar também para o presidente Bolsonaro. Nesta quinta-feira, o jornal paraguaio ABC Color publicou matéria denunciando a participação do vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, em acordo que favoreceria Bolsonaro. Segundo a reportagem, um assessor jurídico de Velázquez teria intermediado acordo junto à Ande (estatal paraguaia de energia) que beneficiaria uma empresa ligada à família do presidente brasileiro.

A matéria relata que o empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), se apresentou em nome da família Bolsonaro para intermediar a compra de energia excedente de Itaipu para distribuição no Brasil. O negócio seria entre a empresa Léros Comercializadora de Energia e a Ande. A reunião foi realizada no dia 10 de maio, em Ciudad del Este, cidade na fronteira com Foz do Iguaçu.

Segundo o jornal, o assessor jurídico de Velázquez, o advogado José Rodríguez González, afirma que Giordano se apresentou como representante da família Bolsonaro. González inclusive cita Giordano como sendo “senador brasileiro”, com o respaldo da família do presidente do Brasil.

“Em todos as conversações que tivemos com esse grupo empresarial brasileiro, a primeira coisa que fizeram é que tem o apoio do alto mando brasileiro para conseguir as autorizações de importação de energia”, disse González ao ABC Color.