'Telegramgate'

Em Porto Rico, população exige saída de governador que teve conversas pelo Telegram reveladas

Divulgação de conversas com insultos e ameaças agravam a crise no território associado aos Estados Unidos, que decretou falência e foi devastado por um furacão

Reprodução/Democracy Now
Reprodução/Democracy Now
Porto-riquenhos querem que o governador seja investigado pelo Legislativo

São Paulo – Milhares de porto-riquenhos saíram às ruas da capital, San Juan, para exigir a saída do governador, Ricardo Rosselló, após divulgação de conversas inapropriadas trocadas pelo Telegram com colaboradores. Nas mensagens, o líder do estado associado aos Estados Unidos se refere de maneira grosseira e insultante a líderes de movimentos sociais e da oposição, e um de seus principais aliados faz comentários homofóbicos contra o cantor Rick Martin, uma das personalidades mais conhecidas da ilha.

O “Telegramgate”, como o escândalo vem sendo chamado, teve o seu ápice no último dia 13, quando o Centro de Jornalismo Investigativo de Porto Rico publicou os principais trechos de um documento recebido de uma fonte anônima que contém 900 páginas de conversas mantidas por Roselló com seus partidários e apoiadores.

Numa das mensagens, ele chega a chamar a prefeita da capital, Carmen Yulín Cruz, de “FdP”. Um de seus auxiliares revela o desejo de “disparar um tiro contra ela”, e Roselló responde que lhe faria “um grande favor. “A ‘comandanta’ deixou de tomar os seus medicamentos? É isso ou é uma tremenda FdP”, disse o governador, num grupo do Telegram.

Sobre Rick Martin, Christian Sobrino, um dos principais assessores do governador, disse que o cantor era “tão machista que dorme com homens, porque as mulheres não o excitam”. Sobrino era o representante do governador na chamada Junta de Supervisão Fiscal, que foi nomeada pelo congresso norte-americano, após Porto Rico ter decretado falência, em maio de 2017, tendo acumulado dívidas de US$ 73 bilhões. O governador diz que os integrantes da junta deveriam ser “metralhados”.

No último domingo (21), Rosselló pediu desculpas pelo conteúdo das mensagens e afirmou que não vai concorrer à reeleição de 2020, e também renunciou à presidência do seu partido. “Não tenho orgulho do que fiz, foram meros comentários, mas foram comentários ofensivos. Peço desculpa pelo que fiz mas é preciso avançar e continuar o trabalho que estamos fazendo por Porto Rico”. Ele alegou que as conversas no grupo serviam para liberar tensões das jornadas de trabalho exaustivas.

“A única coisa que o senhor acaba de fazer com essa mensagem que acaba de divulgar é brincar com a saúde mental dos porto-riquenhos (…) exijo dos presidentes do poder legislativo na ilha que, por favor, comecem o processo de julgamento político. Se não quer sair, essa é a única opção que nós temos”, respondeu o cantor, que se tornou um dos principais apoiadores do movimento #RickRenuncia, pela saída do governador Ricardo Rosselló.

Em setembro passado, a ilha foi devastada pelo furacão Maria, que deixou cerca de 4 mil mortos. A junta exigia do governo esforços na reconstrução. O fornecimento de eletricidade, por exemplo, só foi restabelecido em todo o território 11 meses depois do desastre. Há denúncias de desvio e desperdício de recursos enviados pelos Estados Unidos.