Emir Sader

Política de Trump ignora culpa dos EUA pela pobreza na América Central

Imagem de pai e filha mortos ao tentar cruzar fronteira do México para os Estados Unidos choca ao expor drama humano dos imigrantes. E Trump age como se "problema não fosse dele

Organização Internacional de Migração/Keith Dannemiller
Organização Internacional de Migração/Keith Dannemiller
"A caneta de Trump matou mais esses dois salvadorenhos na fronteira", afirma Emir Sader sobre pai e filha mortos no México

São Paulo – A política migratória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segue contabilizando um número crescente de vítimas. Apenas no ano passado, pelo menos 283 pessoas morreram tentando cruzar a divisa com o México, de acordo com a Patrulha de Fronteira estadunidense. Mas o número pode ser ainda maior. A dimensão humana do drama dos imigrantes que tentam a travessia foi mais uma vez captada pela imagem de um pai e uma filha encontrados mortos nas margens do rio Grande, no México.

Os salvadorenhos Óscar Martinez e Valeria Martinez, de um ano e 11 meses, tentavam entrar nos Estados Unidos quando se depararam com o colapso do sistema migratório de Trump, marcado por uma política de recrudescimento, que coloca, em uma longa lista de espera, as famílias para serem atendidas pela Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos.

De acordo com reportagem do El País, diante da crise nos centros migratórios nas regiões fronteiriças, por desespero, as pessoas se lançam ao rio para chegar mais perto dos Estados Unidos, acreditando que conseguirão asilo. Óscar tentou o percurso e primeiro atravessou o rio com a filha, mas, quando voltou para buscar a esposa, a criança se jogou na água e, na tentativa de salvá-la, a correnteza levou os dois. O caso aconteceu no domingo, e as imagens dos corpos sem vida em que Valeria está com os braços em volta do pescoço do pai, chocaram o mundo. O presidente do país não se pronunciou.

Para o cientista político Emir Sader, comentarista da Rádio Brasil Atual, essa é mais uma imagem que dimensiona os impactos da política trumpista. “A ideia de que é um problema dos outros, não é deles, vai reproduzir situações dramáticas e desumanas como essa que a gente vê na foto”, lamenta. Para ele, a forma como Trump entende a questão migratória, desconsidera o papel de seu país na crise econômica e social que assola países como Honduras, Guatemala e El Savador. “É como se não tivessem culpa da miséria e da violência na América Central. E a caneta dele (Trump) matou mais esses dois salvadorenhos na fronteira.”

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