Dramático

Dez anos depois de Lula, ‘o cara’, G20 recebe Bolsonaro, líder do ranking do “fracasso”

Dias antes do G20, documento da ONU classifica presidente Bolsonaro como primeiro em lista de fracassados; Merkel vê situação "dramática" no Brasil

G20 e Reprodução
G20 e Reprodução
Lula no G20 em 2009, um ano antes de concluir governo com mais de 80% de aprovaçnao. Bolsonaro preocupa o mundo

São Paulo – A cena em que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva é saudado como “o cara” por Barack Obama, presidente americano à época, virou lenda. Mas é real. Foi durante o encontro das 20 maiores economias do mundo, o G20, em abril de 2009. “Esse é o cara, eu adoro esse cara”, afirmou Obama. “Ele é o político mais popular da Terra.”

Dez anos depois, a situação do Brasil frente aos países do G20 mudou. E muito. O presidente Jair Bolsonaro participará pela primeira vez do encontro que este ano ocorre em Osaka (Japão), na sexta-feira (28) e sábado (29). A viagem de Bolsonaro ao Japão teve alterada a escala para Lisboa, em não a prevista, em Sevilha – onde o chamado “avião reserva” da Força Aérea Brasileira levava um militar preso em flagrante com 39 quilos de cocaína. A decisão por uma escala diferente não foi explicada.

O brasileiro tem poucos resultados a apresentar. Falará sobre a perspectiva de aprovação da “reforma” da Previdência, livre mercado e combate à corrupção, diante de uma economia cada vez mais fraca. A estimativa de crescimento de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, quando tomou posse, já caiu para menos de 1%, e não para de descer. Em 2009, abatido pela crise global de 2008, o PIB brasileiro teve queda de 0,2% – depois de crescer em média 4,7% nos três anos anteriores e alcançar alta de 7,5% no ano seguinte.

Situação dramática

Um documento publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira (25), com análises sobre o impacto das mudanças climáticas na faixa mais pobre da população mundial, traz duras críticas ao presidente brasileiro. O texto lista uma série de líderes mundiais que são, nas palavras do relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos da ONU, Philip Alston, “um fracasso”. Bolsonaro é o primeiro entre os fracassados. 

A política do governo Bolsonaro para o ambiente é alvo de críticas constantes entre os países europeus. Em carta publicada na revista Science, em abril, mais de 600 cientistas da Europa e 300 indígenas reivindicam que a União Europeia vincule importações do Brasil à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos.

O eurodeputado alemão Martin Häusling, do Partido Verde, disse em entrevista ao jornal Deutsche Welle que o presidente brasileiro não compartilha os mesmos valores democráticos da União Europeia e que por isso não haveria base para negociar um acordo com o Mercosul daquele bloco com o Mercosul.

Chanceler Angela Merkel citou o desempenho e a situação do Brasil no parlamento alemão

Em sessão no Parlamento alemão, em Berlim, nesta quarta, a chanceler Angela Merkel descreveu como dramática a situação do Brasil sob o governo Jair Bolsonaro. Merkel foi questionada pela deputada do Partido Verde Anja Hajduk, sobre se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, no momento em que ambientalistas, cientistas e defensores dos direitos humanos denunciam o desrespeito a essas frentes no Brasil.

“Vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo governo brasileiro”, disse Merkel, afirmando que a reunião do G20 será uma oportunidade para tratar do assunto. “Porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil.”

A comandante da maior economia da Europa, no entanto, diz que a hipótese de a União Europeia não levar adiante um acordo com o Mercosul – lembrando que outros países estão envolvidos – não fará com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. “Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para o que acontece no Brasil não aconteça mais.”

Merkel mencionou o Brasil em resposta ao questionamento da deputada do Partido Verde Anja Hajduk. A parlamentar também colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações entre os blocos europeu e sul-americano.

O noticiário alemão sobre o Brasil tem uma ampla cobertura negativa, como se pode ver aqui.