Rafael Correa aumenta tom contra EUA e críticos de que Equador ofereça asilo a ex-espião
Presidente equatoriano argumenta que país tem direito de analisar, com soberania, pedido de asilo de Edward Snowden, que ainda não foi apresentado oficialmente
Publicado 28/06/2013 - 13h14
São Paulo – O presidente do Equador, Rafael Correa, disse na manhã de hoje (28) por meio de sua conta na rede social Twitter que os meios de comunicação equatorianos e internacionais não conseguiram provar as acusações de que seu governo pratica espionagem contra os cidadãos do país. “Acabou-se o prazo para que demonstrem a ‘espionagem’ do Equador”, escreveu. “Fica demonstrado que foi apenas mais uma farsa como ‘castigo’ aos ‘insubmissos’”.
As insinuações haviam sido publicadas na última terça-feira (25) pela página de notícias BuzzFeed, cujos repórteres teriam tido acesso a documentos secretos demonstrando que o Equador recentemente importou equipamentos de vigilância doméstica. A notícia foi replicada pela imprensa nacional, e Rafael Correa passou a ser acusado de “incoerência”. O presidente tem criticado duramente os Estados Unidos por monitorarem ligações e e-mails de seus próprios cidadãos para combater o terrorismo – e também por perseguir o ex-espião Edward Snowden, quem está sendo caçado após vazar informações sobre atividades escusas da Agência Nacional de Segurança (NSA).
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Snowden é o pivô de mais um enfrentamento entre a pequena nação andina e o império político, econômico e militar mais poderoso do mundo. Há pouco mais de um ano, o criador do WikiLeaks, Julian Assange, refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, na Inglaterra, pedindo “asilo diplomático” ao presidente Rafael Correa. O ativista conseguiu o benefício, e se encontra no prédio até hoje. Agora é Snowden quem, para ira de Washington, pleiteia refúgio na república sul-americana para escapar às prisões ianques. O ex-espião se encontra no aeroporto de Moscou, na Rússia, depois de ter fugido dos Estados Unidos e feito uma escala em Hong Kong.
Foi na capital russa que Snowden externou sua vontade de seguir o exemplo de Julian Assange e pedir asilo no Equador. Foi também lá que o homem mais perseguido da atualidade estabeleceu seu primeiro e único contato até agora com um diplomata equatoriano. No entanto, Snowden ainda não deu entrada formal no pedido – para tanto, o presidente Rafael Correa explica que o ex-espião precisa estar fisicamente em solo equatoriano ou numa das instalações oficiais do país no exterior. Só então é possível dar início ao processo. Esse requisito fora cumprido por Assange, mas ainda não por Snowden.
Apesar de não haver nenhuma definição sobre o asilo, a escalada retórica entre Quito e Washington só faz aumentar. Os discursos se endureceram depois que autoridades norte-americanas disseram que “não seria nada bom” para o Equador conceder asilo político a Edward Snowden. O presidente Rafael Correa entendeu a mensagem como uma falta de respeito à soberania do país, que teria todo o direito de analisar pedidos de asilo e concedê-lo a quem quer que seja – desde que obedeça os acordos internacionais dos quais é signatário. Além disso, os Estados Unidos ameaçaram extinguir algumas preferências fiscais concedidas a produtos equatorianos exportados ao país.
“Estão nos pressionando e dizendo que retirarão as preferências fiscais devido ao caso Snowden”, disse ontem (27) o presidente equatoriano, que não gostou do que considerou uma “chantagem” de Washington. “Nossa dignidade não tem preço: renunciamos unilateral e irrevogavelmente das preferências fiscais.” Além de abrir mão do benefício comercial, Rafael Correa ofereceu uma ajuda anual de US$ 28 milhões aos Estados Unidos para capacitação em direitos humanos.
O presidente lembrou que seu país é um dos únicos do mundo que assinou todos os tratados internacionais de direitos humanos, e pediu a Washington que fizesse o mesmo. “O Equador não se crê moralmente superior a nenhuma nação do mundo, mas tampouco vamos aceitar posições cínicas, que não têm fundamento nem na razão nem na verdade, mas apenas na força e no poder”, continuou. “Estão conseguindo colocar foco na atenção em Snowden e nos ‘malvados’ países que o ‘apoiam’, esquecendo as terríveis coisas que ele denunciou contra o povo norte-americano e o mundo inteiro.”