Caso Snowden

Rafael Correa aumenta tom contra EUA e críticos de que Equador ofereça asilo a ex-espião

Presidente equatoriano argumenta que país tem direito de analisar, com soberania, pedido de asilo de Edward Snowden, que ainda não foi apresentado oficialmente

Agência EFE

‘Nossa dignidade não tem preço: renunciamos unilateral e irrevogavelmente às preferências fiscais’

São Paulo – O presidente do Equador, Rafael Correa, disse na manhã de hoje (28) por meio de sua conta na rede social Twitter que os meios de comunicação equatorianos e internacionais não conseguiram provar as acusações de que seu governo pratica espionagem contra os cidadãos do país. “Acabou-se o prazo para que demonstrem a ‘espionagem’ do Equador”, escreveu. “Fica demonstrado que foi apenas mais uma farsa como ‘castigo’ aos ‘insubmissos’”.

As insinuações haviam sido publicadas na última terça-feira (25) pela página de notícias BuzzFeed, cujos repórteres teriam tido acesso a documentos secretos demonstrando que o Equador recentemente importou equipamentos de vigilância doméstica. A notícia foi replicada pela imprensa nacional, e Rafael Correa passou a ser acusado de “incoerência”. O presidente tem criticado duramente os Estados Unidos por monitorarem ligações e e-mails de seus próprios cidadãos para combater o terrorismo – e também por perseguir o ex-espião Edward Snowden, quem está sendo caçado após vazar informações sobre atividades escusas da Agência Nacional de Segurança (NSA).

Snowden é o pivô de mais um enfrentamento entre a pequena nação andina e o império político, econômico e militar mais poderoso do mundo. Há pouco mais de um ano, o criador do WikiLeaks, Julian Assange, refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, na Inglaterra, pedindo “asilo diplomático” ao presidente Rafael Correa. O ativista conseguiu o benefício, e se encontra no prédio até hoje. Agora é Snowden quem, para ira de Washington, pleiteia refúgio na república sul-americana para escapar às prisões ianques. O ex-espião se encontra no aeroporto de Moscou, na Rússia, depois de ter fugido dos Estados Unidos e feito uma escala em Hong Kong.

Foi na capital russa que Snowden externou sua vontade de seguir o exemplo de Julian Assange e pedir asilo no Equador. Foi também lá que o homem mais perseguido da atualidade estabeleceu seu primeiro e único contato até agora com um diplomata equatoriano. No entanto, Snowden ainda não deu entrada formal no pedido – para tanto, o presidente Rafael Correa explica que o ex-espião precisa estar fisicamente em solo equatoriano ou numa das instalações oficiais do país no exterior. Só então é possível dar início ao processo. Esse requisito fora cumprido por Assange, mas ainda não por Snowden.

Apesar de não haver nenhuma definição sobre o asilo, a escalada retórica entre Quito e Washington só faz aumentar. Os discursos se endureceram depois que autoridades norte-americanas disseram que “não seria nada bom” para o Equador conceder asilo político a Edward Snowden. O presidente Rafael Correa entendeu a mensagem como uma falta de respeito à soberania do país, que teria todo o direito de analisar pedidos de asilo e concedê-lo a quem quer que seja – desde que obedeça os acordos internacionais dos quais é signatário. Além disso, os Estados Unidos ameaçaram extinguir algumas preferências fiscais concedidas a produtos equatorianos exportados ao país.

“Estão nos pressionando e dizendo que retirarão as preferências fiscais devido ao caso Snowden”, disse ontem (27) o presidente equatoriano, que não gostou do que considerou uma “chantagem” de Washington. “Nossa dignidade não tem preço: renunciamos unilateral e irrevogavelmente das preferências fiscais.” Além de abrir mão do benefício comercial, Rafael Correa ofereceu uma ajuda anual de US$ 28 milhões aos Estados Unidos para capacitação em direitos humanos.

O presidente lembrou que seu país é um dos únicos do mundo que assinou todos os tratados internacionais de direitos humanos, e pediu a Washington que fizesse o mesmo. “O Equador não se crê moralmente superior a nenhuma nação do mundo, mas tampouco vamos aceitar posições cínicas, que não têm fundamento nem na razão nem na verdade, mas apenas na força e no poder”, continuou. “Estão conseguindo colocar foco na atenção em Snowden e nos ‘malvados’ países que o ‘apoiam’, esquecendo as terríveis coisas que ele denunciou contra o povo norte-americano e o mundo inteiro.”