Uruguai quer trocar armas por computadores e bicicletas

É a primeira vez que Montevidéu impulsiona campanha de desarmamento com prêmios aos cidadãos que entregarem seus artefatos

Mujica (dir.) recebeu presidente mexicano na semana passada. Uruguai quer trocar armas por computadores e bikes (Foto: Presidência do Uruguai)

São Paulo – “A intenção é trocar armas de fogo por armas para a vida”, define Marcelo Barzelli, diretor de comunicação do Ministério do Interior uruguaio, em entrevista ao jornal argentino Clarín. “O cidadão traz uma arma e, em compensação, recebe uma arma de conhecimento, como um computador portátil, ou uma arma para o lazer, o exercício ou o trabalho, como a bicicleta.”

O que hoje ainda é apenas uma ideia, nos próximos meses – em março, propõe o governo – pode virar uma campanha nacional pelo desarmamento no Uruguai, que, de acordo com ongs, vive uma “escalada” de mortes violentas neste início de ano. De 1990 pra cá, o país registrou média anual de 6 assassinatos com armas de fogo por 100 mil habitantes. Em 2012, a nação onde vivem 3,5 milhões de pessoas teve 267 homicídios, de acordo com dados de uma ong chamada FundaPro, ligada à oposição. Em 2011, foram 193. O estado de São Paulo, no Brasil, teve um índice de 11,5 assassinatos por 100 mil habitantes no ano passado.

De acordo com o Clarín, existem aproximadamente 500 mil armas de fogo em circulação no Uruguai, das quais 450 mil estão devidamente registradas – no Brasil há 15 milhões, de acordo com o Escritório da ONU contra Drogas e Crimes. Setores do Ministério do Interior uruguaio acreditam que a grande maioria das armas estão em posse de cidadãos comuns que, por medo, resolveram se armar. No entanto, roubos e assaltos a casa acabam fazendo com que os artefatos acabem nas mãos do crime.

Daí que, além da proposta de trocar armas por computadores e bicicletas, o governo pretende lançar ainda uma campanha em prol do registro das armas existentes no país. Para incentivar os cidadãos a legalizarem seus revólveres, o parlamento deve aprovar uma lei que criminaliza o porte informal com “penas duras”, segundo o jornal El Observador, que podem ir de um a 12 anos.

A recente disposição de Montevidéu em regulamentar a produção, distribuição, venda e consumo de maconha no país também se relaciona às preocupações do governo com a violência. Com tem repetido o presidente José Mujica em seus discursos públicos, um terço dos aproximadamente 9 mil uruguaios presos hoje em dia cumprem penas relativas ao narcotráfico.

Por isso, o Executivo enviou ao parlamento um projeto de lei que transforma o comércio de maconha num monopólio estatal. O poder público combater o tráfico pela via econômica, estrangulando um de suas mais rentáveis fontes de renda. Assim, acredita, poderá reduzir o índice de crimes e violências atualmente relacionados à proibição das drogas.