Líder das Farc diz que quer acabar com a guerra na Colômbia

Benito Cabrera reiterou que a guerrilha não fará mais sequestros econômicos, mas permanecerá fazendo prisioneiros soldados e policiais que caiam em combate

São Paulo – O líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), José Benito Cabrera, conhecido como ‘Fabián Ramírez’, afirmou ontem (31) que a guerrilha deseja acabar com a guerra civil vivida pelo país desde os anos 1960. “Devemos acabar com essa guerra chegando a um acordo entre o governo e a guerrilha”, pontuou o combatente. “Sem ódio, sem vantagens, cedendo, olhando quem tem razão.”

As declarações foram proferidas durante uma entrevista ao jornalista independente Karl Penhaul, retransmitida com exclusividade pela rádio colombiana Caracol. Benito Cabrera ponderou, porém, que não será fácil encerrar o conflito. “Não basta dizer ‘entreguem as armas, parem de atacar lugares e a força pública’. Não, não é assim. Para acabar a guerra, tem de acabar com as causas que a originaram”, emendou, destacando que há setores do governo e das forças armadas interessados na continuidade dos combates.

“Os soldados, suboficiais e oficiais de baixa patente sabem que não temos de nos enfrentar mais, mas seus altos chefes, seus superiores, não permitem que esse negócio acabe, pois, senão, acaba o dinheiro para eles”, revelou. Cabrera lembrou um episódio em que participou de negociações de paz com o governo junto ao líder histórico das Farc, Manuel Marulanda Vélez, durante a administração do presidente Andrés Pastrana.

“Quando estávamos dialogando, tanto os delegados do governo como das Farc estávamos dedicados a humanizar a guerra. Mas Marulanda disse que não estava de acordo com isso. Não quero humanizar a guerra: quero acabar com a guerra. Para que a humanizamos? Para continuá-la? Nosso objetivo deve ser acabar a guerra.”

O líder da guerrilha também explicou que, apesar das Farc terem se comprometido a não ordenar mais sequestros para arrecadar recursos econômicos à luta armada, não deixará de apressar militares e policiais durante os enfrentamentos. “Já dissemos e repito que não voltaremos a sequestrar, mas se um soldado cai em combate, ele não é um sequestrado, é um prisioneiro”, afirmou.

O ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón, evitou comentar as declarações de Benito Cabrera, quem qualificou como “terrorista” após lamentar que “se dê tanto espaço na opinião pública a um homem que cometeu tantos delitos”. Já o presidente do Senado da Colômbia, Roy Barreras, demonstrou confiança de que as palavras do líder guerrilheiro seja unânime dentro das Farc.

Com informações de ANSA, Télam, Caracol Radio e El Espectador