Líder de missão da ONU descarta solução militar para Síria

Paulo Sérgio Pinheiro afirma que situação é “complicadíssima” após assassinato do ministro da Defesa e que desfecho para o conflito entre governo e grupos armados é imprevisível

“Uma invasão estrangeira seria um desastre”, diz Pinheiro (Foto: Roosewelt Pinheiro. Agência Brasil)

São Paulo – O brasileiro que lidera a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, descartou a possibilidade de uma operação militar para tentar dar fim aos combates entre o governo de Bashar al-Assad e grupos armados, que já levam 16 meses e deixaram ao menos 12 mil mortos. 

Ontem (18), em São Paulo, Pinheiro afirmou que a única alternativa é a negociação diplomática. “Não há outra saída. Alguns países gostam de dizer que todas as opções estão sobre a mesa, mas não há mesa nem há outra opção. Primeiro porque não há possibilidade de intervenção externa. Segundo porque nem os Estados Unidos, até novembro, por causa das eleições, nem a Rússia querem uma invasão estrangeira”, disse a jornalistas após reunião com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a respeito da Comissão Nacional da Verdade, da qual é membro.

Um atentado que matou o ministro da Defesa e seu vice, deixando vários feridos, voltou a agitar o debate na comunidade internacional sobre qual caminho adotar em relação ao governo de al-Assad. O Conselho de Segurança da ONU deve debater hoje (19) a imposição de sanções, mas a Rússia, que é integrante permanente e tem poder de veto, opõe-se a qualquer medida que vá contra o presidente. 

“A situação da Síria é complicadíssima. Tudo pode acontecer. Eu não estava esperando esse atentado”, resumiu Pinheiro, que não descarta que o episódio seja resultado de um aumento de força dos grupos contrários ao atual gabinete. “Os conflitos já estão presentes, o governo atua até agora com helicópteros, aviação para reconhecimento. E os grupos armados e o Exército Livre da Síria têm, porque alguns países estão fornecendo armas e meios financeiros, muito mais poderio que anteriormente.”

Ainda assim, o chefe da missão avalia que os opositores de al-Assad não têm condições militares de derrotá-lo neste momento. Além disso, a União Europeia e alguns países do Oriente Médio não autorizariam, por ora, uma intervenção armada externa. “Uma invasão estrangeira seria um desastre. A Síria nao é como a Líbia, em que a oposição dominava uma certa parte do território. Tudo lá é intrincado.”

O brasileiro acredita que a saída passe pela aplicação do plano de paz elaborado pelo enviado especial das Nações e da Liga Árabe, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. Ontem, Annan cobrou uma atitude rápida por parte do Conselho de Segurança para permitir que tenha início a transição de governo na Síria e o fim do derramamento de sangue. O mandato da missão chefiada por ele encerra-se amanhã (20), o que força os 15 membros do órgão de governança das Nações Unidas a tomar uma atitude. 

Na terça-feira (17), o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) disse que o número de sírios que fugiram para Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia quase triplicou desde abril: 112 mil pessoas tiveram de deixar o país em virtude dos combates, na maioria das vezes mulheres e crianças. Segundo o Acnur, o número de refugiados pode ser ainda maior. 

“Muitos dos recém-chegados são totalmente dependentes de ajuda humanitária. Alguns têm somente a roupa do corpo e passaram muitos meses desempregados”, disse o porta-voz do Acnur, Adrian Edwards. “As necessidades de quem chegou no início do ano também estão aumentando à medida que suas economias se esgotam”, ressaltou.