Arrancam os feridos que estão nos hospitais, afirma hondurenha
Integrante da Via Campesina relata à Rede Brasil Atual que está refugiada em uma casa sem saber se poderá sair. Ela confirma que há gente sendo levada a força para um estádio
Publicado 22/09/2009 - 15h38
Uma das ruas de Honduras que ficaram repletas na tarde de segunda com o retorno de Zelaya (Foto: HablaHonduras.com)
Pessoas trancadas nas casas, repressão policial nas ruas, incerteza em relação ao que ocorrerá nos próximos dias. Esse é o resumo da vida dos moradores da capital hondurenha Tegucigalpa nesta terça-feira (22).
Depois que o presidente deposto Manuel Zelaya conseguiu retornar ao país, abrigando-se na embaixada brasileira, o governo golpista ordenou a volta do toque de recolher e está reprimindo aqueles que tentam se aproximar do edifício diplomático.
Wendy Cruz, integrante da Via Campesina em Honduras, relatou por telefone à Rede Brasil Atual que está refugiada desde a manhã desta terça em uma casa de Tegucigalpa juntamente com outros integrantes dos movimentos de resistência ao golpe. Agora, ali e em outras partes da cidade, muitas pessoas não podem sair às ruas nem para buscar alimentos.
“Vamos ver se podemos chegar às nossas casas, mas a polícia detém qualquer veículo e qualquer pessoa. Muitos estamos aqui reclusos. É uma região da cidade na qual há muitos militares porque está perto do hospital-escola”, afirma.
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Do hospital, aliás, ela relata que são levados muitos dos feridos, e que é complicado saber o destino deles pela dificuldade de comunicação. Wendy Cruz sabe, no entanto, que muitos detidos são conduzidos para o estádio Chochi Sosa, que nas redes sociais da internet já é chamado pelos hondurenhos de “campo de concentração” do regime golpista.
O nervosismo e a incerteza estão evidentes na voz da integrante da Via Campesina. “Aqui, a ordem do dia são os militares, manobrando contra o povo hondurenho. Estamos vendo o que vamos fazer, como vamos nos organizar”, relata.
Enquanto buscam organização, os movimentos de resistência enfrentam as dificuldades geradas pelos golpistas: cortes de luz e de telefone, barreiras policiais montadas em todas as entradas de Tegucigalpa para evitar que pessoas venham de outras partes do país. Wendy Cruz resume o panorama: “Não querem deixar o poder por bem, estão esquecendo o povo. Não sabemos o que vai acontecer porque estamos em uma situação terrível. Não deixam circular os organismos de direitos humanos, há muitos feridos”.