Enquanto mundo pede fim de repressão, Micheletti acusa Brasil

Em meio a novas repressões, ONU suspende missão que apoiaria processo eleitoral por afirmar que não há condições para isso

Desde o golpe, e em especial nos últimos dias, uma cena que se tornou comum em Honduras (Foto: ResistenciaMorazan)

O líder do governo golpista de Honduras, Roberto Micheletti, cobrou nesta quarta-feira (23) o presidente Lula, acusando que atos de vandalismo são incentivados a partir da embaixada brasileira, onde está abrigado o deposto Manuel Zelaya.

Em entrevista à rede de TV CNN, que desde o começo posicionou-se a favor do golpe, Micheletti reiterou que não pretende invadir o prédio diplomático, mesma informação que vem sendo divulgada há dias. “Até agora, só recebemos do Brasil a mensagem de que é necessário respeitar a vida do senhor Zelaya, mas também fazemos este pedido”, afirmou.

Mais cedo, o presidente Lula abriu a Assembleia Geral da ONU em Nova York fazendo um apelo pela volta ao poder do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Aplaudido, o brasileiro falou que “a comunidade internacional exige que Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país e deve estar atenta à inviolabilidade” da embaixada brasileira na capital hondurenha, onde Zelaya está abrigado desde segunda-feira.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, anunciou a suspensão do envio da missão eleitoral que iria ao país colaborar na organização da votação presidencial. Em nota, ele afirmou que não há condições para que sejam realizadas eleições fidedignas “que façam avançar a paz e a segurança”.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil confirmou que o abastecimento de água e luz à embaixada em Tegucigalpa foi retomado. Segundo a assessoria do Itamaraty, a comunicação via telefone ainda está complicada, mas não é possível afirmar se foi mantido o corte das linhas ou se há sobrecarga na rede.

O fornecimento de serviços básicos havia sido cortado na terça-feira (22) no interior do prédio que abriga o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Desde que ele chegou ao local, na segunda (21), os golpistas vêm cobrando uma definição de posição do Brasil a respeito do caso: querem que seja concedido status de asilado político a Zelaya ou que ele seja entregue à Justiça local.

O governo golpista de Honduras violou a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas ao realizar os cortes. O presidente da Academia Brasileira de Direito Internacional e professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Menezes, afirma à Rede Brasil Atual que o governo hondurenho é cada vez mais ilegítimo à luz da lei.

Nesta quarta-feira, foi enviada ao presidente da Assembleia Geral, Miguel d’Escoto, uma carta de Juan Almendares, ex-reitor da Universidade Autônoma de Honduras e defensor dos direitos humanos. Na correspondência, Almendares alerta para a possibilidade de que a qualquer momento seja cometido um magnicídio contra Zelaya. “A nação foi convertida em uma imensa cadeia sem permitir o acesso aos feridos, torturados e sem poder oferecer água e alimentos às pessoas arbitrariamente presas em estádios, quadras, prisões clandestinas”, relata.

O ex-reitor pede que a ONU nomeie imediatamente uma comissão médica e de direitos humanos que se apresente na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa e nos centros de detenção, legais ou ilegais.

A Anistia Internacional emitiu nota condenando os abusos policiais, com pelo menos um morto, centenas de detidos e repressão de protestos com gás lacrimogêneo. Susan Lee, diretora da Anistia Internacional para as Américas, classifica a situação como alarmante.

“Os ataques contra os defensores dos direitos humanos, a suspensão dos meios de comunicação, os golpes nos manifestantes por parte da polícia e os crescentes relatos de prisões em massa indicam que os direitos humanos e o império da lei em Honduras estão em risco,” afirma. 

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos fez uma condenação enérgica às ações dos golpistas. A CIDH fez um “chamado urgente” pedindo que sejam respeitadas a vida e a integridade das pessoas detidas. Em comunicado, “a Comissão Interamericana expressa novamente sua profunda preocupação pela reiterada utilização de diversos estados de emergência em Honduras, neste caso do toque de recolher, para suspender direitos fundamentais e para evitar manifestações públicas”.

Sítios de Honduras repercutem a repressão a movimentos de resistência nas últimas horas e a suspensão momentânea do toque de recolher. A morte de um manifestante pró-Zelaya em Tegucigalpa foi confirmada.

Com informações da Reuters.