Golpistas voltam a acusar Brasil de intromissão

Celso Amorim rebate afirmando que país quer ter uma ação moderadora e que volta de Zelaya é oportunidade, e não problema

Marcha desta terça-feira em Tegucigalpa pediu retorno de Manuel Zelaya ao cargo. Golpistas tentam organizar protesto em frente à Embaixada do Brasil (Foto: HablaHonduras.com)

O governo golpista de Honduras reiterou nesta quinta-feira (24) as acusações contra o Brasil. Em um comunicado, a Secretaria de Relações Exteriores aponta que fica “evidente a intromissão do governo do Senhor Lula da Silva nos assuntos internos de Honduras”.

Os argumentos utilizados pelos golpistas são o abrigo dado pelo Brasil ao presidente legítimo Manuel Zelaya, ainda que os próprios admitam que não houve conversa prévia alguma entre o deposto e a diplomacia brasileira.

Novamente, o governo golpista liderado por Roberto Micheletti afirmou que recai sobre o Brasil a responsabilidade “pela vida e a segurança do senhor Zelaya e pelos danos à integridade física das pessoas e das propriedades”. A polícia hondurenha e as forças armadas já admitiram a morte de duas pessoas desde segunda-feira, quando o presidente retornou ao país.

De Nova York, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu as declarações de que partem da representação diplomática brasileira incitações de violência. “Ninguém está insuflando, estamos tentando ter uma ação moderadora”, afirmou. O chanceler reagiu ainda a setores da imprensa que afirmam que o retorno de Zelaya gerou uma crise.

“Essa oportunidade (de negociação), no caso, envolve riscos. Mas é uma oportunidade para que haja um diálogo, que é o que estamos querendo propiciar”.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) espera enviar neste fim de semana uma missão a Honduras para dar início a novas negociações. Em Tegucigalpa, foi encerrado nesta quinta o toque de recolher que imperava desde segunda. Os aeroportos foram reabertos, mas ainda não recebem voos internacionais.

O ministro Amorim pediu mudanças também neste aspecto: “Para que haja diálogo, é preciso que se abra o aeroporto, deixe que o avião chegue lá, uma missão da OEA chegue lá”.

Pela internet, movimentos de resistência ao golpe acusam que o governo ilegal paga o equivalente a R$ 28 às pessoas de bairros pobres para que participem de manifestações anti-Zelaya.

Juan Barahona, líder da Frente Nacional de Resistência, disse temer que a polícia aproveite eventuais distúrbios para invadir a embaixada e prender Zelaya. “Deste regime ilegal se pode esperar qualquer coisa. Hoje a resistência está nos bairros,
tomando conta de ruas e avenidas”, afirma.

Dos Estados Unidos surge um estudo divulgado pelo jornal hondurenho La Prensa afirmando que o golpe foi legítimo. A análise foi conduzida pela Biblioteca do Congresso estadunidense, tido pelo jornal de apoio aos golpistas como “apolítico”. O Serviço de Investigações concluiu que a “destituição do ex presidente Zelaya foi constitucional e devemos respeitar esse fato. É inaceitável que nosso governo trate de obrigar Honduras a violar sua própria Constituição ao cortar-lhe a ajuda estrangeira”.

A comunidade internacional reforça os pedidos de que a repressão seja interrompida. Depois da Anistia Internacional e da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Federação Internacional de Direitos Humanos pediu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas atue para evitar um “banho de sangue” no país. A entidade afirma que é urgente adotar uma medida e que a ONU deve ser pronunciar o quanto antes. Duas mortes foram confirmadas desde o início da nova onda de repressão, na segunda-feira, e há centenas de pessoas detidas.

A mesma expectativa é nutrida pelo Brasil, que espera a realização da reunião do Conselho de Segurança da ONU que pode definir medidas para assegurar a segurança no entorno da embaixada brasileira, onde está abrigado o presidente legítimo. A França apoiou o pedido do presidente Lula, apontando que o caminho deve ser de uma saída negociada ao impasse.

Ao mesmo tempo, a União Europeia e a Organização dos Estados Americanos acordaram o retorno de seus embaixadores em Tegucigalpa e a União de Nações Sul-americanas (Unasul) emitiu nota exigindo a imediata restituição de Zelaya ao cargo de presidente.

Atualizado às 13h20. Com agências internacionais.