Cenário brasileiro

Evasão escolar é maior entre jovens negros. ‘É a violência do racismo’

Quase metade dos homens negros, de 19 a 24 anos, não concluiram o ensino médio, diz o IBGE. Entre mulheres negras, índice chega a ser de 33%. Para especialistas, abandono escolar tem raízes sociais

TVT/Reprodução
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"Tem relação direta com a formação da sociedade brasileira, o racismo é estrutural na sociedade", afirma o professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA)

São Paulo – Quase metade dos jovens negros, de 19 a 24 anos, não conseguiram concluir o ensino médio. De acordo com dados do IBGE, divulgados nesta semana com relação a 2018, enquanto o índice de evasão escolar chega a ser de 44,2% entre os homens, um recorte de gênero e raça revela ainda que sobre as mulheres negras, da mesma faixa etária, o abandono escolar é uma realidade para 33% das jovens. Ao Seu Jornal, da TVT, especialistas analisam que a exclusão escolar, cuja a média geral já é alta, ao atingir principalmente a população negra, revela raízes sociais.

“Tem relação direta com a formação da sociedade brasileira, o racismo é estrutural na sociedade”, afirma o professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA) Antonio de Jesus Rocha ao repórter Caio Castor.  “Obviamente isso afeta sobretudo a juventude negra da periferia, os alunos negros não se reconhecem nas escolas, nos livros didáticos, nas falas dos professores. Ou seja, apesar da Lei 10.639/2003 induzir o trabalho da questão étnico-racial na escola, isso está longe de ser uma prática cotidiana na escola pública do estado de São Paulo”, contesta o docente.

Após abandonar a escola, o estudante Gustavo Coelho, que agora volta a estudar pelo EJA, conta que na época precisou abrir mão dos estudos pelas dificuldades em conciliá-los com as tarefas domésticas e os cuidados com os irmãos menores. Os dados do IBGE também mostram que de cada 10 alunos que ingressam nessa modalidade, ao menos seis são negros. “Eu tive que aprender cedo a ser basicamente um pai para meus irmãos. Como minha mãe acorda até hoje, todos os dias, às 4h30 para conseguir chegar no emprego, eu tenho que olhar meus irmãos, se precisar ir no médico eu que levo, na escola também, mas agora tem a perua, mas foi grande parte de eu ter ajudado que me fez largar a escola. Outra coisa também é a questão do racismo, porque, querendo ou não, a pele escura incomoda muita gente”, lamenta o jovem.

Para a coordenadora da Ação Educativa, Edneia Gonçalves, os dados sobre a evasão escolar são um amostra do modo como a “violência do racismo incide sobre a juventude negra”. Para a especialista, é preciso mais políticas públicas e, nesse sentido, a extinção da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC), realizada pelo governo de Jair Bolsonaro, vai na contramão do fortalecimento do ensino no Brasil. “A extinção quer dizer e não fazer com que as ações que já estavam em curso, as perspectivas que estavam sendo apontadas como de melhoria desse diálogo, está levando a naturalização do racismo estrutural e institucional das escolas. O que nós precisamos, enquanto sociedade, é exigir atenção e políticas que retomem o que havia e que avancem”, destaca a coordenadora.

Assista à reportagem da TVT