'reforma'

Novo currículo aprovado para o ensino médio aprofundará desigualdades sociais

Português e Matemática são as únicas matérias obrigatórias da nova Base Nacional Comum Curricular. Demais disciplinas ficarão a cargo da oferta das escolas

Marcos Santos/USP Imagens

Especialistas apontam que a desigualdade no país não permite as mesmas condições de ensino em todas as escolas públicas

São Paulo – A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio foi aprovada, na terça-feira (4), pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). A proposta estabelece Português e Matemática como únicas disciplinas obrigatórias a serem cursadas pelos alunos a partir de 2022. Os demais eixos formativos serão ofertados de forma optativa para cada estado.

Coordenador da organização Ação Educativa, Roberto Catelli, em entrevista à repórter Beatriz Drague Ramos, da Rádio Brasil Atual, prevê um agravo no acesso ao ensino superior por alunos de escolas públicas porque, segundo Catelli, as desigualdades no país não permitem que as escolas ofereçam todo o percurso formativo das Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas ou ensino técnico, que ficarão a critério dos alunos deixando de ser obrigatórios e dependentes da oferta das escolas.

“Você vai ter ainda menos gente na escola pública preparada para o Enem, por exemplo. E o Enem vai te cobrar uma formação acadêmica, só que a escola não teve”, afirma Catelli. 

As alterações também são fortemente criticadas por alunos, professores e outros estudiosos da educação, como o professor de Políticas Educacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Cássio, membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que acredita que a nova base deve retirar direitos.

“A lei obriga o Estado a ofertar pelo menos dois, ou às vezes um, itinerário formativo. Então, na verdade, a liberdade de escolha é uma liberdade relativa, é uma heteronomia e não uma autonomia, é uma autonomia governada por outro. Isso é reduzir de maneira muito perniciosa a complexidade humana dos processos educativos”, avalia Cássio. 

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