São Paulo – Em 16 de março de 2020, uma segunda-feira, o apresentador Oswaldo Luiz Colibri Vitta entrevistava o violeiro Ricardo Vignini no programa Hora do Rango, da Rádio Brasil Atual. Tudo corria normalmente até o intervalo, quando entrou o noticiário do dia. Então, animado com a perspectiva de shows nos próximos dias, o músico paulistano retornou com a expressão de quem recebe uma notícia devastadora. Sua apresentação havia sido cancelada pelo Sesc, que decidira fechar temporariamente.

A entidade suspendeu toda a programação, devido à pandemia que começava a mudar a rotina e a vida das pessoas, particularmente dos artistas. No caso da rádio, a solução encontrada, depois de alguns dias de reprises do Hora do Rango, foi criar um outro programa, no formato virtual, mas que continuasse recebendo os artistas. Começava a surgir o Colibri na Quarentena, que na última quarta-feira (7) completou 307 edições.

Novo formato

A sugestão foi de Rafael, filho do apresentador e diretor da Rádio Brasil Atual, que em 2017 ganhou o prêmio de melhor produtor musical dado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Por que não gravar de casa? Feitos os estudos e a preparação técnica, surgiu o novo programa, que, além de músicos, recebe gente do teatro, do cinema e das letras.

Assim, já passaram pelo microfone – e pelo vídeo – cantores e compositores de várias gerações. Como o diretor teatral Zé Celso, a diretora de cinema Laís Bodanzky e os jornalistas Celso de Campos Jr. e Toninho Vaz, autores de biografias de Adoniran Barbosa e Luiz Melodia. Ou o produtor João Marcelo Bôscoli, que escreveu livro sobre sua relação com a mãe, Elis Regina. Um variado cardápio, já quase todo reunido no YouTube.

Artistas em dificuldades

O programa também é importante para os artistas, na medida em que a pandemia restringiu drasticamente suas atividades. A Lei Aldir Blanc, aprovada pelo Congresso, fez com parte da classe artística respirasse, mas as dificuldades ainda são muitas. Nesse caos sanitário e cultural, eles se dividiram entre “deprimidos”, “hiperativos” e “perdidos”, ou todas as alternativas juntas, em busca de saídas para manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo – e a sobrevivência.

Foi possivelmente no Colibri na Quarentena que o instrumentista Luis Vágner deu sua última entrevista. Ele morreu em maio, aos 73 anos. Ali, o vereador paulistano Eduardo Suplicy introduziu a renda básica de cidadania nos versos do Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes, durante a cantoria de Eu sei que vou te amar. Também foi possível trazer artistas que, por variados motivos, nunca podiam estar presentes na hora do almoço. Casos de Tom Zé, Marcos Valle, Jards Macalé, MPB-4, Roberto Menescal, Sérgio Dias, entre outros.

Veio para ficar?

Além disso, a tecnologia permitiu juntar, no mesmo programa, um produtor em Lyon, na França, e um repentista na zona da mata pernambucana. Ou reunir vários músicos simultaneamente, como as famílias Espíndola e Ramil e o Beatles Cordel. Possibilidades surgidas na pandemia.

Nesse sentido, Colibri Vitta acredita que o modelo pode ter surgido para ficar, da mesma forma que o home office em várias atividades profissionais. Talvez em forma híbrida, na expectativa do retorno dos shows presenciais. Depois da terra arrasada, artistas e público esperam se reencontrar. Enquanto isso não acontece, se encontram no rádio. Ele destaca ainda o trabalho do produtor Nelson Calura e do editor Rafael Vitta.

A Rádio Brasil Atual está na FM 98,9 na Grande São Paulo. Confira o canal da emissora no YouTube e aqui a playlist destes tempos de Colibri na Quarentena.