Primeira sessão de filme sobre Lula em Brasília superlota teatro

Brasília – Foi longa, tumultuada no início, mas terminou entre lágrimas e aplausos a primeira sessão pública do filme “Lula – O Filho do Brasil”, de Fábio Barreto, que abriu […]

Brasília – Foi longa, tumultuada no início, mas terminou entre lágrimas e aplausos a primeira sessão pública do filme “Lula – O Filho do Brasil”, de Fábio Barreto, que abriu na noite de terça-feira (17) o 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presença chegou a ser anunciada nos últimos dias, não foi. Em seu lugar, esteve a primeira-dama, Marisa Letícia da Silva, alguns ministros, como o de Esportes, Orlando Silva, e o governador de Brasília, José Roberto Arruda (DEM), o vice, Paulo Octavio, entre outros.

Com aparato de segurança discreto, a primeira-dama evitava, porém, os jornalistas que tentavam entrevistá-la, que eram gentil mas firmemente afastados por uma assessora.

Com tantas autoridades presentes, a sessão ganhou ainda uma nota política adicional, quando um pequeno grupo de estudantes invadiu o palco, ostentando uma faixa onde se lia: “Lula, liberte Cesare”, referindo-se ao ex-brigadista italiano Cesare Battisti, cuja extradição está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Na entrada do teatro, o principal problema era a superlotação. Apenas dois seguranças na porta não conseguiam impedir aglomeração e empurra-empurras no ingresso à sala – contrariando a rotina das noites de abertura deste festival, o mais antigo do Brasil, que costumam acontecer com convidados fazendo filas.

Os lugares demarcados para a imprensa e convidados, numa área protegida por uma faixa, rapidamente se esgotaram. Quando chegaram os atores do filme, como Glória Pires (que interpreta dona Lindu, mãe de Lula) e Juliana Baroni (que interpreta dona Marisa), não havia poltronas para eles.

Isto provocou uma reação do diretor do filme, Fábio Barreto, que, quando se dirigiu ao palco para dar início à apresentação, serviu-se do microfone para reclamar: “A organização do festival não guardou lugar para os meus atores, eles não têm onde sentar.”

Abordagem emotiva

Baseado em livro de Denise Paraná, que co-assina o roteiro com Fernando Bonassi e Daniel Tendler, o filme percorre a trajetória de Lula desde a infância, saindo de Garanhuns em pau-de-arara em 1952, com a mãe e irmãos, rumo a Santos (SP). Lá, reencontram-se com o pai, Aristides (Milhem Cortaz, de “Tropa de Elite”), alcoólatra e violento, que anos depois é abandonado por dona Lindu.

Logo depois, ela e os filhos rumam para São Paulo, depois São Bernardo do Campo (SP), onde Lula (na fase adulta, interpretado pelo estreante em cinema Rui Ricardo Dias) tornou-se operário e sindicalista, antes de entrar para a política.

É visível que o foco da história está no indivíduo Lula, procurando-se uma abordagem emotiva, que coloca em primeiro plano suas relações familiares com três mulheres – além da figura forte da mãe, sua primeira mulher, Lourdes (Cléo Pires), que morreu grávida de oito meses, e a segunda, Marisa Letícia (Juliana Baroni).

Quando retrata o sindicalismo, a opção é colocar Lula como um líder hesitante – que a princípio não quer saber de política – mas em formação, que emerge de um ambiente dominado por alguns ‘pelegos’, como Feitosa (Marcos Cesana).

O filme, no entanto, não cita a formação do Partido dos Trabalhadores, que evoluiu das greves de metalúrgicos lideradas por Lula no ABC paulista, no final dos anos 1970.

Ao retratar essas greves, eventualmente se recorre a imagens documentais – sempre tendo o cuidado de evitar mostrar o rosto do Lula real. Uma atitude que só é abandonada no final, quando se menciona a eleição presidencial de 2002, a primeira vencida por ele, e Lula é mostrado ao lado de dona Marisa no seu primeiro desfile, em carro aberto, por Brasília.

Com orçamento estimado em R$ 17 milhões, que, segundo os produtores, foram bancados por diversos patrocinadores privados – sem recurso a leis de incentivo, como o filme ostenta em seus letreiros iniciais, antes de exibir um a um os nomes e logotipos de todos os seus apoiadores -, o filme tem visivelmente uma produção técnica de primeira linha.

Entre seus profissionais, estão nomes consagrados como o compositor Antonio Pinto (autor da trilha de “Central do Brasil”, de Walter Salles) e Clóvis Bueno (de “Terra Vermelha”, “Os Desafinados”) na direção de arte.

Duas outras sessões do filme estão previstas nas próximas semanas, em Recife (PE) e São Bernardo (SP). A estreia comercial só acontece em janeiro de 2010.

Fonte: Reuters

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