Reconstrução

‘Falavam que artista é bandido. Como aceitar isso?’, questiona ministra da Cultura

Margareth Menezes traça caminhos para reconstruir a cultura após o descaso bolsonarista. ‘Ouvi muitos depoimentos de assédio moral’, relata

Joedson Alves/ABr
Joedson Alves/ABr
"Vamos mostrar que cultura gera retorno econômico para o país. Cada real investido em cultura gera de R$ 1,5 a R$ 1,6 de retorno"

São Paulo – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu a cultura brasileira como inimiga de seu projeto de poder. Após o desmonte das políticas públicas no setor, os desafios para a reconstrução são inúmeros. Eles vão muito além da recriação do Ministério da Cultura. As análises são da ministra Margareth Menezes. “Em poucos anos, o Brasil caiu da 7ª para a 13ª posição como país que mais influencia a cultura no mundo”, destacou.

Margareth, que participou de café da manhã com jornalistas nesta quarta-feira (8), destacou a relevância da cultura para a identidade nacional e também para a economia. “É a alma da nação e a alma de um povo (…) Além disso, vamos mostrar que cultura gera retorno econômico para o país. Cada real investido em cultura gera de R$ 1,5 a R$ 1,6 de retorno”, explicou. A ideia central agora é de “ressignificar” a cultura após ataques sistemáticos do bolsonarismo contra a arte do povo brasileiro. “Falavam que artista é bandido. Como se pode aceitar isso?”, questionou.

Questionada sobre os relatos que encontrou dos servidores do ministério, Margareth destacou alguns casos emblemáticos que revelam o tratamento dado pelo bolsonarismo às artes. “Ouvi muitos depoimentos de assédio moral, inclusive de gente proibida de usar máscara”, disse. O secretário executivo da pasta, Márcio Tavares, completou: “O nível de desmonte foi gigantesco. A Secretaria de Especial de Cultura não executava nenhuma política cultural. Tudo estava parado há anos, exceto emendas parlamentares daqueles que eram mais próximos do governo anterior”.

O governo e a cultura

Agora, contudo, o cenário mudou. Lula foi eleito com amplo apoio da classe artística e de produtores culturais. Então, esperam-se bons resultados e um caminho de reconstrução. Margareth celebra o compromisso que o governo federal vem mostrando com a pasta. Ela comemorou o orçamento previsto para o ano, de R$ 5 bilhões. Em 2022, em comparação, a quantia destinada ao setor foi de R$ 1,67 bilhão. “É um orçamento histórico o deste ano, e nos dará condições de recuperar a estrutura do ministério, bem como de retomar um conjunto de políticas”, disse.

Além do orçamento, voltam ao cenário as pessoas. Margareth destacou que a sociedade e os fazedores de cultura participarão das políticas públicas. “O Conselho Nacional de Incentivo à Cultura era uma comissão democrática, que passou a ter suas atribuições feitas por uma pessoa apenas, mas vamos retomar essa apreciação que era feita pela sociedade”, disse. A ministra também prevê um cronograma de conferências culturais. Então, a primeira está programada para ocorrer entre novembro e dezembro.

Por fim, a ministra defendeu a criação e fortalecimento de equipamentos públicos de cultura. “Precisamos de bibliotecas, cinemas. Cultura é, além de identidade, um setor de mobilização econômica. E as periferias serão muito importantes para termos capilaridade onde ministério e empresas não chegam.”

Com informações da Agência Brasil