'Grande bagunça'

Bolsa Família: Wellington Dias revela indícios de 2,5 milhões de recebedores irregulares

“Temos, infelizmente, pessoas com renda elevada, com nove salários mínimos, recebendo o Bolsa Família”, afirma o ministro

Arquivo/ABr
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"Estamos trabalhando muito para recuperar o tempo perdido. Como dizia Betinho, a ‘fome tem pressa’"

São Paulo – O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, visitou nesta quinta-feira (9) a Cozinha Solidária em Sol Nascente (DF), do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST). O projeto distribui alimentos para pessoas vulneráveis. Acompanhado do líder do movimento e deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), Dias deu panorama sobre problemas no Bolsa Família. De acordo com o ministro, a atual gestão herdou “uma bagunça” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A pasta trabalha em uma revisão do Bolsa Família, chamado de Auxílio Brasil no governo anterior. Hoje, são 21,5 milhões de famílias beneficiárias. Destas, 10 milhões passarão por uma revisão. “Acreditamos que mais ou menos 2,5 milhões destes que recebem têm grandes indícios de irregularidade”, revelou Dias. Isso porque Bolsonaro distribuiu sem controle e sem os mecanismos de contrapartida do programa. O governo chegou a levantar a hipótese de que o ex-presidente utilizou o programa para comprar votos.

“Temos, infelizmente, pessoas com renda elevada, com nove salários mínimos (R$ 11.880), recebendo. E pessoas sem renda, com fome, que não conseguem acessar. É mais do que uma atualização de cadastro, é justiça social”, disse. A revisão dos processos de pagamento do Bolsa Família será necessária para avaliar a gravidade do abuso da máquina pública por Bolsonaro, segundo Wellington, que afirmou haver investigações em andamento neste sentido.

Bolsa Família eficiente

Em 2021, Bolsonaro retirou as contrapartidas do Bolsa Família. Durante os governos petistas, para que o cidadão acessasse o programa, ele assumia alguns compromissos, como manter a vacinação dos filhos em dia. “As famílias que recebem o Bolsa Família assumem o compromisso de garantir acompanhamento nutricional e vacinação para as crianças de até sete anos de idade. Além disso, as gestantes precisam fazer o exame pré-natal e o acompanhamento da sua saúde e do bebê. Na educação, todas as crianças e adolescentes entre seis e 15 anos devem estar devidamente matriculados e com frequência escolar mensal mínima de 85% da carga horária”, explica artigo do Instituto Lula.

Assistência social

A inteligência do Bolsa Família depende do Cadastro Único. Contudo, o governo Bolsonaro não utilizou o sistema. “Foi desmantelado o cérebro do Cadastro Único. É como se tivesse uma bagunça para perder o controle”, disse Dias. As informações do Cadastro Único são relevantes para todo o Sistema Único de Assistência Social (Suas), que envolve todos os programas sociais do Executivo. De acordo com a avaliação do governo de transição, a gestão Bolsonaro promoveu amplo desmonte no setor.

Após a visita à Cozinha Solidária, Dias participou de reunião do Conselho Nacional de Assistência Social. As ideias em debate visam justamente reconstruir as estrutura do Suas. Dias e a presidenta do colegiado, Margareth Alves, assinaram portaria que garante a realização da  13ª Conferência Nacional de Assistência Social entre 5 e 8 de dezembro. “Hoje é um dia histórico para quem luta pelo Suas”, destacou a presidenta.

“Tivemos um desmonte, mas o CNAS não acabou porque fomos resistência”, completou. Dias, por sua vez, reafirmou o compromisso do governo com o diálogo pela reconstrução. “Venho dizer que acabou a fase de não conversarmos, agora vamos voltar a dialogar. É importante voltar à fase de ouvir o povo, com a nossa conferência nacional, e que a gente tenha em cada município pessoas participando, discutindo, integrados com vários atores, olhando o que é essencial.”

Por fim, Dias ponderou que a chamada PEC da Transição (agora Emenda Constitucional 126) permite uma margem de ação no sentido de resolver alguns desses problemas. “No ministério estamos trabalhando muito para recuperar o tempo perdido. Como dizia Betinho (o sociólogo Herbert de Souza), a ‘fome tem pressa’ e a PEC nos permite a condição de pactuar com a rede e todo o sistema para voltarem a funcionar. Garante também que a gente tenha recursos para 32 programas sociais.”