Voz da rua

Grupo de teatro União e Olho Vivo espalha visões e histórias do Bom Retiro por todos os cantos de São Paulo

Companhia de teatro popular mostra histórias de bairro paulistano de origem fabril, a partir da cultura, personagens e mazelas

Graciela Rodriguez/Divulgação
Graciela Rodriguez/Divulgação
Espetáculo narra acontecimentos de existência e resistência, diz criador

São Paulo – O bairro Bom Retiro, na região central de São Paulo, recebeu levas de migrantes e operários no século 19 e também era espaço de chácaras para famílias mais ricas, inclusive a que deu o nome ao bairro. Foi lá que se instalou a primeira fábrica de automóveis no Brasil (Ford, anos 1920). E é lá também que ficam prédios importantes do patrimônio cultural paulistano. Além disso, o Bom Retiro abriga há mais de quatro décadas o grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, conhecido como Tuov, que agora apresenta histórias do bairro, em uma série de espetáculos em espaços culturais e escolas públicas de todas as regiões da cidade (confira abaixo).

“O Bom Retiro recebeu levas de refugiados políticos e sociais desde a sua fundação. Por ali passaram italianos, judeus, coreanos, bolivianos e paraguaios. O espetáculo aborda acontecimentos que ocorreram durante a sua existência e resistência, como a fundação do Sport Clube Corinthians Paulista e o trabalho escravo nas ‘Oficinas de Suor’, narra o coordenador do grupo, César Vieira, nome artístico de Idibal Pivetta. Dramaturgo, advogado e ex-preso político, ele também é sinônimo de resistência.

Diversidade cultural

Bom Retiro Meu Amor – Ópera Samba (80 minutos, grátis) é o nome do espetáculo, que inicia temporada a partir do dia 24, incluindo oficinas gratuitas. Segundo o grupo de teatro, criado em 1966, a encenação “homenageia este território tradicionalmente fabril que, em razão da imigração vinda de diversos países, abarca uma imensa diversidade cultural”. No estilo que caracteriza o Tuov: a partir do contato direto com o público nos bairros, por meio de associações, escolas e sindicatos.

“A dramaturgia do espetáculo é resultado de uma imersão na história e nas sutilezas do cotidiano do Bom Retiro, que serviram de base para ciclos de conversas, oficinas e reflexões envolvendo o público, trabalhadores, moradores do bairro, estudantes, pessoas desempregadas, pessoas comuns e artistas”, diz ainda o grupo. 

A peça: formação da cidade e suas vozes marginalizadas
(Foto: Graciela Rodriguez/Divulgação)

Assim, algumas cenas foram montadas a partir de fatos históricos da região, como o incêndio na Estação da Luz, de onde se pegava o trem para o interior, em 1946. Construída pela São Paulo Railway, que adquiriu direitos de concessão por 90 anos, a estação teria toda a estrutura repassada ao governo federal em novembro daquele ano. Um dia antes, foi tomada por um incêndio de grandes proporções. Na mesma região onde fica hoje o Museu da Língua Portuguesa, reinaugurado em 2021 após quase seis anos, também devido a um incêndio.

Famoso incêndio na Luz, em 1946, inspira parte da apresentação do grupo teatral (Foto: Reprodução)

Imaginário social

Além disso, a peça aborda mulheres na prostituição que ficavam pela rua Aimorés, no século passado, e agora no Parque da Luz. E também o trabalho análogo à escravidão, um fato recorrente naquela região em período mais recente, como nas oficinas de costura em geral clandestinas. “Com essa circulação buscamos dividir com pessoas dos quatro cantos da cidade nossa história sobre o bairro que nos abriga e que marca por diversos momentos a formação da cidade, levantando vozes marginalizadas e passando por lugares históricos que permeiam nosso imaginário social”, afirma Vieira. 

Também estão previstas quatro oficinas para estudantes, abertas ao público em geral. Música em Cena, Corpo e Palavra em Cena, Figurino e Cenário no Jogo do Tuov e Mulheres em Cena abordam diversos aspectos da criação e das expressões desenvolvidas pelos artistas de teatro, e os elementos utilizados nos espetáculos.

Confira a programação.

Setembro

  • Dia 24, sábado

Horário: 10h (Espetáculo) – 11h40 (Oficina)

Local: EMEFM Professor Derville Allegretti (Rua Voluntários da Pátria, 777 – Santana, zona norte)

Outubro

  • Dia 1º

Horário: 14h (Oficina) – 16h e 19h (Espetáculo)

Local: Instituto Pombas Urbanas (Avenida dos Metalúrgicos, 2.100 – Cidade Tiradentes, zona leste)

  • Dia 8

Horário: 10h (Espetáculo)

Local: EMEFM Professor Derville  Allegretti (Rua Voluntários da Pátria, 777)

  • Dia 9

Horário: 11h e 16h (Espetáculo) e 14h (Oficina)

Local: Espaço de Cultura Cita (Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Campo Limpo, zona sul)

  • Dia 30

Horário: 19h (espetáculo)

Local: Casa de Teatro Maria José de Carvalho CIA Heliópolis (Rua Silva Bueno – Ipiranga, zona sul)

Novembro

  • Dia 5

Horário: 11h e 17h (espetáculo) e 14h30 (oficina)

Local: Ocupação Artística Canhoba – Cine Teatro Pandora (Rua Canhoba, 299 – Vila Fanton, Perus, zona noroeste)

  • Dia 6

Horário: 11h e 16h (espetáculo)

Local: Território Okaracy Antropofágica (Rua Leonel Martiniano, s/n, Chácara Maria Trindade, em frente à antiga Kapper, zona oeste)

  • Dia 12

Horário: 11h e 16h (espetáculo)

Local: Companhia Brava (Rua Vitório, 77 – Vila Prel, zona sul)

  • Dias 19 e 20

Horários: sábado às 19h e domingo às 16h (espetáculos)

Local: CDC Vento Leste (Rua Dr. Frederico Brotero, 60 – Cidade Patriarca, zona leste)


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