São Paulo – O compositor João Donato morreu na madrugada desta segunda-feira (17), exatamente um mês antes de completar 89 anos, em consequência de uma série de problemas de saúde. Identificado com a Bossa Nova, que ajudou a consolidar, o acreano Donato tinha em seu repertório e sonoridade trabalhos que iam muito além daquele movimento surgido no final dos anos 1950.

O crítico Mauro Ferreira, por exemplo, escreveu hoje em seu blog no portal g1 que o compositor foi amigo e parceiro de Antonio Carlos Jobim e João Gilberto, “expoentes mundiais da onda sonora que se ergueu no mar do Brasil em 1958, mas a bossa do som de Donato era outra, pautada pela mistura fina e singular de música brasileira com ritmos da América Latina e com o jazz que ele tanto amava”.

O pesquisador e escritor Rodrigo Faour, que o chamou de “anjo aglutinador” musical, reforçou, em texto publicado nas redes sociais. “Começou muito cedo e parece mesmo que nasceu moderno, tanto que ajudou a fundar o que se convencionou chamar de bossa nova, cuja contribuição maior foi levá-la a um crossover com os ritmos caribenhos no período de 1959 a 1972, quando viveu nos Estados Unidos.”

Todas as gerações

Na volta ao Brasil, acrescenta Faour, Donato fez parcerias “memoráveis” com grandes letristas. “Mas foi a partir dos anos 1990 que viveu o esplendor dos seus dias e popularidade, quando passou a gravar um disco atrás do outro e colecionar parcerias com todas as gerações da música brasileira, inclusive as mais novas, sem qualquer preconceito.”

Seu último álbum, Serotonina, foi lançado em 2022. Quase todas as faixas – inéditas – têm letras, à exceção justamente da que dá nome ao álbum.

Entre as canções mais conhecidas do fértil criador, estão Lugar Comum e A Paz, gravada por Gilberto Gil. Já Nara Leão gravou Nasci para Bailar (Donato e Paulo André Barata).

“Doce, preciso e profundo”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou nas redes sociais em homenagem ao artista. “João Donato, pianista, acordeonista, cantor e compositor, foi um dos gênios da música brasileira. Perdemos hoje um de nossos maiores e mais criativos compositores”, afirmou.

“Um homem sensível e único, criador de um estilo próprio com um piano diferente de tudo que já vi. Doce, preciso e profundo”, escreveu a cantora Marisa Monte. Para Carlinhos Brown, ele foi um “grande estruturador da moderna música brasileira”.