professor do mundo

Exílio de Paulo Freire é tema do episódio de documentário que o Cine TVT exibe hoje (16)

Após a experiência exitosa na pequena Angicos, no sertão do RN, com 300 adultos alfatizados em 40 horas, Freire foi preso e obrigado a seguir para o exílio por 15 anos

Instituto Paulo Freire
Instituto Paulo Freire
Patrono da Educação brasileira, Freire foi convidadoi a levar educação popular para vários países. Até os EUA

São Paulo – O Cine TVT deste sábado (16) exibe o terceiro episódio do documentário Paulo Freire, um Homem do Mundo. Lançada em 2020 pelo SescTV e a TVT, a obra dirigida por Cristiano Burlan mostra a vida, a obra e as ideias do educador reconhecido internacionalmente. A sessão começa às 21h30.

O episódio “O Exílio” aborda a interrupção da carreira de Freire no Brasil golpe de 31 de março de 1964. Acusado de subversão, foi preso em uma delegacia em 1º de junho para dar detalhes de “atividades subversivas antes e durante o movimento de 1º de abril, assim como suas ligações com pessoas e grupos de agitadores nacionais e internacionais”.

O educador foi liberado dois dias depois. Mas logo voltou a ser encarcerado por 72 dias. Desta vez no quartel de Obuses, em Olinda, mesmo sem mandado ou explicações. No início ficou em uma cela solitária no piso inferior, em condições insalubres, mas logo foi transferido para a enfermaria, já que possuía curso superior.

Por causa de seus métodos inovadores de educação, como a experiência de alfabetização de 300 adultos na pequena Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte em apenas 40 horas, era obrigado a comparecer regularmente às instalações do Exército para registrar suas últimas atividades. Até que a contragosto aceitou conselho de amigos e buscou exílio na embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro.

Como Paulo Freire se tornou o professor do mundo

Logo após a ida para a capital La Paz, em setembro de 1964, aos 43 anos, Freire, passou a ser acusado de fugitivo e “de um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”. “Isso porque sua atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista de politização dos mesmos”, segundo um inquérito.

O educador que levou na bagagem experiências singulares na alfabetização de adultos, de grande alcance social, logo chamou atenção de governos, educadores e intelectuais de todo o mundo. Após pouco tempo na Bolívia, devido ao golpe de Estado que derrubou o governo de Victor Paz Estensoro, seguiu para o Chile em novembro daquele ano, e ali trabalhou por cinco anos no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária (Icira).

No Chile escreveu, em 1968, Pedagogia do Oprimido, seu principal livro. Em abril seguinte, recebeu convite para lecionar nos Estados Unidos e para atuar no Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, Suíça. Inicialmente ficou dez meses em Harvard antes de seguir para a Suiça. Ainda nos Estados Unidos, atuou como professor convidado da Universidade de Harvard, em Cambridge e Massachussetts, onde dava aulas sobre suas próprias reflexões.

Educação popular na África e outros continentes

Ao lado de outros brasileiros exilados, fundou o Instituto de Ação Cultural (Idac), para prestar serviços educativos, especialmente aos países do Terceiro Mundo que lutavam por sua independência. Então colaborou com os governos de Guiné-Bissau no desenvolvimento do programa nacional de alfabetização e com o de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola. Freire viajou por países da África, Ásia, Américas e Oceania, sempre exercendo atividades político-educativas. Em especial na Austrália, Itália, Nicarágua, Ilhas Fiji, Índia e Tanzânia, entre outros.

“Para mim, o exílio foi profundamente pedagógico. Quando, exilado, tomei distância do Brasil, comecei a compreender-me e a compreendê-lo melhor”, disse o educador em conversa com Frei Betto sobre os 15 anos longe de seu país, segundo o livro Essa Escola Chamada Vida.

Próximos episódios

“Do pátio do Colégio à Pedagogia do Oprimido” é o quarto capítulo. Nele, a volta do exílio e a nomeação, em 1989, para o cargo de secretário de Educação do município de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina (PT), onde tornou a rede mais democrática, com qualidade e inclusiva.

A série termina com a abordagem da influência de Paulo Freire no teatro da Cia do Tijolo, na música, na poesia e na Escola de Samba Leandro de Itaquera, que o homenageou em 1999. No episódio “O Mundo não é, Está Sendo”, há depoimentos de artistas que se inspiram nos seus ensinamentos, na ética freireana baseada na aproximação com o outro, com a cultura do outro.

Leia também:

Redação: Cida de Oliveira