Delação

Cid confessou ter dado ‘nas mãos de Bolsonaro’ dinheiro da venda de joias, mostra revista

À Policia Federal, ex-faz-tudo do ex-presidente afirmou que o então chefe estava preocupado com a vida financeira e multas para pagar. Valor da venda ilegal seria de US$ 68 mil. O depoimento contradiz Bolsonaro, que tem negado recebimento de dinheiro referente à venda de joias

Reprodução/Youtube
Reprodução/Youtube
Cid detalhou que o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta de seu pai e logo depois sacado e entregue nas mãos de Bolsonaro

São Paulo – Em depoimento à Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que entregou “nas mãos” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) o dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado. A informação é da Revista Veja, que publicou, nesta quinta-feira (14), parte da transcrição do acordo de colaboração fechado com Cid e a PF.

Em depoimento, Cid admitiu ter participado da venda de dois relógios de luxo – um Patek Philippe e um Rolex – recebidos pelo ex-presidente, a quem serviu como ajudante de ordens durante todo o mandato. A venda total teria sido no valor de US$ 68 mil, entregue de forma parcelada, com uma parte repassada nos Estados Unidos e outra no Brasil para Bolsonaro.

A transação, realizada na surdina nos EUA, foi descoberta pela Polícia Federal, logo após o ex-mandatário viajar ao país, no fim do ano passado, acompanhado de Cid e levando na bagagem dois kits de joias. De acordo com os investigadores, embora pertencesse ao Estado Brasileiro, o relógio Patek vendido, por exemplo, sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes. Para a PF, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar os bens públicos de alto valor para enriquecimento ilícito.

Saque e entrega

Segundo a transcrição do relato, Cid detalhou que o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta de seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, amigo do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Logo depois, o montante foi sacado e entregue diretamente para Bolsonaro. O ex-mandatário, declarado inelegível, tem negado o recebimento de dinheiro referente à venda ilegal de joias. Sua defesa também argumenta que os presentes podem ser classificados como “personalíssimos”. E por isso faziam parte do acervo pessoal do então chefe do Executivo, que poderia comercializá-los.

No entanto, de acordo com Cid, Bolsonaro estava “preocupado com a vida financeira” porque havia sido “condenado a pagar várias multas”. O ex-faz-tudo também alegou que sabia que a venda poderia ser “imoral”, mas não “ilegal”.

A delação premiada

A delação de Cid é referente ao inquérito das milícias digitais, que apura a existência de uma organização criminosa que teria a finalidade de atentar contra o Estado Democrático de Direito, e investigações conexas, como a que apura o desvio de joias e presentes de governos estrangeiros na gestão Bolsonaro. O ex-ajudante de ordens estava preso desde o dia 3 de maio, acusado de fraudar cartões de vacinação dele, de sua família e de Bolsonaro e a filha.

No sábado (9), o acordo de colaboração foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que determinou a liberdade provisória de Cid. O depoimento vem causando repercussão em Brasília, dada a proximidade entre Cid e Bolsonaro. Nesta semana, Moraes negou à defesa do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro o acesso ao depoimento.

A reportagem também destaca que o tenente-coronel confessou que foi dele a responsabilidade por fraudar os cartões de vacinação. O objetivo, segundo ele, era ter um “salvo-conduto” para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais “perseguição” por não ter se imunizado. Cid ainda afirmou que tinha medo de que sua filha não pudesse ir à escola ou que a sua mulher mão pudesse entrar no mercado. Ele também foi questionado sobre o roteiro de golpe contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), encontrado em seu celular.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro chamou os documentos de “besteira”. E alegou que recebia esse tipo de material de “gente que defendia intervenção (militar)”. Mas que isso não era repassado ao ex-presidente.

Leia também:

Redação: Clara Assunção


Leia também


Últimas notícias