Filme argentino revisita tensão social no clima da Copa

Inicialmente pensado para ser filme para TV, o roteiro de 'Vila 21' não tem pretensão de falar sobre exclusão ou fazer uma crítica social direta

SÃO PAULO (Reuters) – Questionado sobre a inspiração para o roteiro de “Vila 21”, o diretor argentino Ezio Massa disse que o escreveu em apenas quatro dias com toda “raiva e ressentimento” que a exclusão social em seu país lhe trazia. E é exatamente isso o que se vê na tela de seu novo filme, estreando apenas em São Paulo.

Filmada em uma das mais pobres e violentas periferias de Buenos Aires, a produção retrata o cotidiano de seus moradores, marginalizados e excluídos. Mais especificamente dos jovens Fredy (Julio Zarza), Lupín (Fernando Roa) e Cuzco (Jonathan Rodriguez), que não veem qualquer alternativa à própria marginalidade.

A história tem início em 2002, pouco antes da estreia da seleção argentina (que venceu a Nigéria por 1x 0) na Copa do Mundo, realizada no Japão e Coreia do Sul. O três rapazes, que vivem na Villa 21, terão que se conformar em assistir ao jogo atrás da vitrine de um bar.

Como são enxotados do local, acabam propondo um pacto: eles irão assistir à partida com conforto, frente a uma TV grande e colorida. Depois disso, cada um cria sua própria estratégia, não medindo esforços para que cada plano dê certo.

Cuzquito, o menor deles, ajuda uma idosa a carregar suas compras de supermercado, esperando conquistar sua confiança e assaltar sua casa. Já Lupín, gentil e mais sensível, pretende invadir uma loja de eletrônicos e ver o jogo em suas confortáveis poltronas.

Mas é ao plano de Fredy que Massa dá maior atenção. O jogo é apenas mais um pretexto para o jovem aplacar sua revolta autodestrutiva. Começa a trabalhar para um traficante, destrata o padre da comunidade, abusa da própria namorada e agride seus dois amigos.

Por meio da personagem, o diretor mostra que só se pode punir quem tem esperanças para serem frustradas; quem já é, pelo menos, um pouco bom. Fredy não é um desses. Não há remorsos, constrangimentos, as regras básicas de civilidade simplesmente não se aplicam a ele.

Com claras referências a filmes como “Cidade de Deus” (de Fernando Meirelles) e “Deprisa, Deprisa” (de Carlos Saura), “Vila 21” acerta por seu realismo. O fato de a trilha sonora e do elenco virem diretamente da comunidade contribuiu muito para isso.

Inicialmente pensado para ser filme para TV, o roteiro de “Vila 21” não tem pretensão de falar sobre exclusão ou fazer uma crítica social direta. Mas é difícil não ficar sensibilizado.

Fonte: Reuters

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